domingo, 28 de agosto de 2011

Os riscos do flúor na água


Enviado-luisnassif,
28/08/2011-07:29
Por raquel 

Água fluoretada - Uma Herança Nazista

Em setembro de 2003, e lá se vão oito anos, uma petição internacional assinada por mais de 300 cientistas, químicos, técnicos e ambientalistas de 37 países, pediu a revisão, esclarecimento e discussão sobre os benefícios e malefícios da adição à água encanada do flúor, íon utilizado como preventivo de cáries. Atendendo à petição, foram apresentados vários estudos comprovando os riscos para a saúde geral do corpo, especialmente dos ossos, devido à ingestão desse potente agente químico que quando ultrapassa apenas 1 ppm já causa problema até nos dentes.

De lá para cá, muitas pesquisas vêm atestando ligações entre ingestão de flúor e doenças da modernidade. Autistas, por exemplo, não devem beber água fluoretada. Embora não haja confirmação de associação direta entre o flúor e a disfunção, sabe-se que ele potencializa os sintomas do autismo.

O problema da adição de uma droga, venenosa ou não, na água de todas as pessoas, é uma questão delicada. Até que ponto as autoridades têm o direito de institucionalizar um tratamento medicamentoso na água para todos os cidadãos de todas as idades? Sabendo-se da ligação entre tal produto e desencadeamento de patologias, como e por quais razões se mantêm a mesma diretriz?

A retirada, diante das evidências, bate na trave econômica e política. Subproduto da indústria do alumínio, o íon, que mata um corpo adulto com apenas cinco gramas, não pode ser simplesmente jogado na natureza.

A confiança inicial de que em doses ínfimas espalhadas pelas águas e alimentos no mundo, só faria bem aos dentes, evitando cáries, fez com que as políticas se consolidassem nesse gigantesco contrato comercial mundial, agora difícil de ser desfeito, especialmente em países em desenvolvimento que têm de um lado a população ignorante que aceita as decisões públicas e privadas sem questionamentos e de outro os concentradores de renda, que defendem o status quo a qualquer preço.

Alguns países, já a partir de 2003, outros antes, retiraram o flúor da água e passaram a adicioná-lo ao sal de cozinha, já que se consome menos sal do que água, o que reduziria o risco de ingestão excessiva do íon, cumulativo no corpo humano. Diante das evidências e para reparar a visão equivocada, baseada em pesquisas que só levavam em conta a prevenção de cáries, muitos países simplesmente não utilizam mais o uso sistêmico do flúor como preventivo de cáries; apostam na educação alimentar, higiene e no uso tópico, diretamente aplicado nos dentes.

No Canadá, Áustria, Finlândia, Bélgica, Noruega, França e Cuba, alguns dos países que pararam de fluoretar suas águas, os índices de cáries continuaram caindo. Estudos sobre a ingestão do flúor, que a partir da década de 1970 também foi adicionado a alimentos, leites em pós e a alguns medicamentos, apontam malefícios graves e cumulativos para a saúde em geral. Os danos começam pela fluorose, que pode ser leve, causando manchas esbranquiçadas nos dentes ou grave, quando a dentição permanente fica com manchas marrons ou chega a ser perdida, esfacelando os dentes. Para que isso ocorra basta que crianças de zero a seis anos sejam expostas à ingestão diária do íon. O resultado visível só aparece nos dentes permanentes, já a ingestão de flúor na gravidez compromete a primeira dentição da criança.


O flúor no corpo

Quando ingerido o flúor é rapidamente absorvido pela mucosa do estômago e do intestino delgado. Sabe-se que 50% dele é eliminado pelos rins e que a outra metade aloja-se junto ao cálcio dos tecidos conjuntivos. Dentes e ossos, ao longo do tempo, passam a ficar deformados, surgem doenças e rachaduras.

A hipermineralização dos tecidos conectivos dos ossos, da pele e da parede das artérias é afetada, os tecidos perdem a flexibilidade, se tornam rígidos e quebradiços. Para que tudo isso ocorra, segundo estudo de 1977 da National Academy of Sciences, dos EUA, o corpo humano precisaria absorver durante 40 anos apenas 2 mg de flúor por dia. Parece difícil ingerir tanto, mas a fluorose já é um fato, uma doença moderna comprovada.

Diversos estudos químicos atestam que o flúor é tão tóxico como o chumbo e, como este, cumulativo. Quanto mais velhos mais aumentamos a concentração de flúor nos nossos ossos, o que traz maiores riscos de rachaduras e doenças como a osteoporose (veja o primeiro link). A versão natural do flúor, encontrada na natureza, inclusive em águas minerais, peixes, chás e vegetais tem absorção de 25% pelo corpo humano, mas a fluoretação artificial é quase que totalmente absorvida.

A maior parte se deposita nas partes sólidas do organismo, os ossos, e parte pequena vai para os dentes. Acredita-se que o fluoreto natural tenha algum papel importante para a saúde humana, mas isso ainda não foi completamente comprovado.

No Brasil a adição de flúor à água começou em 1953 em Baixo Guandu (Espírito Santo), virou lei federal (6.050/74) e a campanha da fluoretação das águas, abraçada pela odontologia em parceria com sucessivos governos desde a década de 60, continua em alta e tem como meta atingir 100% da água brasileira encanada. Águas potáveis também recebem flúor e algumas águas minerais possuem mais flúor em sua composição do que é recomendado para evitar a fluorose, que é algo situado entre 0,5 ppm e 1 ppm, dependendo da temperatura ambiente, já que no verão ou em locais mais quentes se consome mais água.

Os odontologistas que ainda defendem a adição do flúor na água potável e encanada afirmam ser a fluorose, que atingiu adolescentes nas últimas gerações com manchas brancas, um problema menor diante das evidências de redução das cáries, comprovadas por várias teses, elaboradas nos anos 1960 e 1970. Segundo eles, esse método é o mais eficaz para reduzir índices de cárie que variam entre 20% e 60%. Da década de 60 para cá, além da fluoretação das águas brasileiras, a população teve acesso maior às escovas de dentes, que tornaram-se mais baratas e populares. Na Suécia, por exemplo, onde não há fluoretação das águas, a cárie foi erradicada por meio da educação da população.

O flúor nos dentes

A redução de cáries por acesso ao flúor ocorre em decorrência de uma regulação do ph bucal, que teria maior constância via corrente sangüínea a partir da ingestão dessa substância. Após escovarmos os dentes com creme dental fluoretado, mantemos o ph ideal por cerca de duas horas. Apesar da campanha pró-ingestão de flúor, nenhum dentista defende a água fluoretada sem a dobradinha boa higiene e boa alimentação.

Não há ph administrado pelo flúor que regule os detritos retidos entre os dentes; esses detritos desregulam o ph local, tornando-o mais ácido, o que favorece o surgimento de cáries e outras doenças periodontais. O açúcar torna o ph do sangue muito ácido e ao lado dele o outro grande vilão é o carboidrato, daí os odontologistas condenarem o abuso de doces, biscoitos e pães entre as refeições, especialmente os feitos com farinhas refinadas.

Segundo Pedro Cordeiro, odontologista em Florianópolis, uma boa alimentação e uma escovação bem feita três vezes ao dia são métodos extremamente eficazes para a prevenção de cáries. "Recomendo aos pais que não usem creme dental fluoretado em crianças até cinco anos, pois é possível que engulam o creme acidentalmente ou voluntariamente, o que acarretaria a fluorose". Uso de fio dental, escovação com água e uma boa alimentação são suficientes para evitar o surgimento de cáries em qualquer idade, garante o dentista.

Medidas seguras

Na água potável encanada são recomendados no máximo 0,6 ppm de flúor, o que causa em crianças menores de sete anos uma fluorose mínima ao nascerem os dentes permanentes. "Acima de 1,5 ppm de flúor na água bebida por crianças menores de sete anos, a fluorose é mais agressiva e pode causar má aparência nos dentes permanentes, mas existe tratamento para essa fluorose nos consultórios dentários", garante o professor Jaime Cury, da Unicamp, defensor da adição de flúor à água. Em Cocalzinho, cidade de Santa Catarina, o flúor contido numa água natural, (1000 ppm) causou sérios danos aos dentes das crianças da região, com perdas parciais e totais dos dentes permanentes.

Profissionais de várias partes do Brasil interessaram-se pelo caso, que foi documentado no final da década de 1980. Em 2004 a água mineral Charrua, do Rio Grande do Sul, apresentava 4ppm de flúor, o que pode resultar em fluorose avançada. O flúor está presente nos cremes dentais desde 1989, inclusive nos infantis, sendo hoje difícil encontrar no mercado convencional um creme dental para uso diário sem o íon.

Normalmente os cremes dentais recebem de 1000 ppm a 1800 ppm de flúor. Não há pesquisa que ateste que o flúor aplicado, sem ingestão, cause qualquer mal, mas segundo vários estudos em odontopediatria, os problemas de fluorose verificados em todo o Brasil nos últimos anos estão relacionados ao uso de creme dental porque crianças pequenas, além de serem extremamente vulneráveis à ingestão do flúor, engolem acidentalmente ou voluntariamente o creme dental. Uma das razões da ingestão voluntária, em crianças maiores de três anos, se deve ao sabor doce dos géis dentais infantis. A fluorose aparente nos dentes de crianças e adolescentes é uma realidade no Brasil.


Diferenças de miligramas são fatais

O argumento que sustenta a adição de flúor à água potável encanada e às águas engarrafadas baseia-se na defesa do controle da cárie infantil. Mas em 1974, quando as águas brasileiras começaram a ser fluoretadas em massa, os cremes dentais não eram fluoretados e as informações sobre os hábitos de higiene e de alimentação iniciavam nas capitais e cidades maiores. Naquela época, o flúor ainda não era adicionado a medicamentos, chicletes, biscoitos e leites em pó para bebês, que quando somados ao flúor da água ultrapassam o nível recomendado para lactantes em até 80%.

O leite humano possui cerca de 00,1ppm de flúor, uma quantidade já bastante inferior à dos leites em pó, mais isso depende, obviamente, da alimentação da mãe. Durante a década de 80, quando a fama do flúor como preventivo de cáries era inquestionável, muitas mulheres grávidas tiveram prescrição para tomar comprimidos que incluíam o íon na composição. Hoje já não se receitam suplementos de flúor para gestantes, pois as que tomaram enfrentaram problemas de fluorose na primeira dentição de seus filhos. Foi um teste "científico" que não deu certo, mas não foi o primeiro.


Flúor e o nazismo

As primeiras pesquisas com ingestão de flúor em humanos foram feitas em campos de concentração nazistas com o intuito de acalmar os prisioneiros, que ingeriam o íon a partir da água com até 1500 ppm de flúor.

O resultado gerava uma espécie de apatetamento. Os prisioneiros cumpriam melhor suas tarefas sem questioná-las. Com o mesmo objetivo, o flúor é adicionado a alguns medicamentos psiquiátricos hoje em dia. Mais de 60 tranquilizantes largamente utilizados contêm flúor, como Diazepan, Valium e Rohypnol, da Roche, ligada à antiga I.G.Farben, indústria química que atuou a serviço da Alemanha nazista.

Essa ligação histórica desperta brigas ferrenhas entre os adeptos da adição do flúor à água e os que são contra, esses últimos acusados pelos primeiros de fazer terrorismo e estabelecer o caos social em nome da nova ordem mundial, que está aí a questionar as bases que sustentam a economia.

A Associação Brasileira de Odontologia recomenda a adição de flúor à água potável como método preventivo fundamental para o Brasil, país grande, de população pobre e desinformada sobre os hábitos de higiene e de alimentação. Segundo o professor Jaime Cury,que passou mais de 20 anos estudando a prevenção da cárie, o flúor adicionado à água tem uma importância social inquestionável. "Gostaria de ser o primeiro a anunciar que o flúor não precisa mais ser adicionado à água. Mas o povo brasileiro, a maior parte da população, a que é pobre e desinformada, não escova os dentes corretamente, não pode cuidar da alimentação e é beneficiada pela adição de flúor na água".

Para ele, "a fluorose leve que não causa mal-estar social, nem deveria ser considerada um problema ou doença porque as crianças com fluorose leve, manchinhas brancas, têm dentes mais fortes".

Questões políticas

A ciência odontológica vê a fluorose média ou grave como problema principal em conseqüência da adição de flúor à água, mas médicos, químicos e toxicologistas afirmam que a fluorose é apenas o começo de um problema espalhado por todos os ossos do corpo, sobrecarregando a glândula pineal e acarretando outras conseqüências na saúde devido a alteração do funcionamento bioquímico. Eles alertam que as doenças podem demorar anos para surgir, pois o flúor é cumulativo.

Nunca houve uma denúncia formal ligando o flúor à indústria de alumínio; as pesquisas feitas por químicos e neurologistas focam exclusivamente os danos do íon à saúde humana. Polêmica à parte, algo não está sendo levado em conta: é praticamente impossível encontrar água que não tenha sofrido adição de flúor. Por uma convenção entre sucessivos governos, a ciência odontológica e a indústria de alumínio, o brasileiro perdeu o direito de beber água sem o aditivo.
*Cláudia Rodrigues, jornalista, terapeuta reichiana, autora de Bebês de Mamães mais que Perfeitas, 2008. Centauro Editora. Texto Publicado no Sul21.
Blog da Cláudia: buenaleche - blogspot

Fonte do Post: Blog Luis Nassif


sábado, 20 de agosto de 2011

A HP e suas escolhas erradas na "era Pós-PC"

Por Ilustre BOB
via blog Luis Nassif

Embora a HP seja a maior vendedora de PCs do mundo, ela praticamente não tem lucrado nesse mercado. Ou seja, ela se degladia com dezenas de outras empresas por margens de lucro pequeníssimas. O problema reside justamente no modelo de licenciamento do sistema operacional; no caso, o Windows.

A Apple, por sua vez, escapa dessa batalha por migalhas já que ela tem controle total da combinação hardware+software. Sendo assim, ela se dá o luxo de ter apenas 7% do market share de PCs, mas ser a empresa que mais lucra no ramo. "Claro, os Macs são caros!", diriam alguns. No entanto, a afirmação não explica o caso. Veja o exemplo da Sony e seus caríssimos Sony Vaio, que no fim das contas dão pouquíssimo (ou nenhum) lucro para a gigante japonesa. O caso aqui é de otimização e controle do todo.

A HP acordou para a situação quando decidiu comprar o webOS e usá-lo como sistema operacional padrão da empresa. O plano inicial era começar usando-o em tablets e celulares e, em seguida, passar a usá-los em PCs numa espécie de transição onde o Windows (e seu dispendioso licenciamento) seria deixado de lado.


No entanto, para o susto da HP, o TouchPad (primeiro e último tablet da empresa) simplesmente não saiu das prateleiras. Apesar da elegância e excelente funcionalidade do webOS, a HP fez um hardware de segunda categoria. O TouchPad foi lançado com uma tela menor, um processador pior e com muito menos apoio dos desenvolvedores de apps que o iPad. E pior: mais caro!

A aposta no mercado de tablets saiu mais arriscada do que o planejado. O público simplesmente não entendeu por que deveriam pagar mais caro num produto pior que o objeto de desejo lançado pela Apple. A HP, então cortou o preço do seu tablet. Duas vez. Sem resultado. Então, lojas de departamento começaram a devolver os milhares de TouchPads não vendidos para a HP. Foi a gota d'água.

Já estamos na era pós-PC e o iPad está dominando o mercado não só porque tem uma excelente integração entre hardware e software, mas também (e principalmente) porque ele oferece um ecossistema completo para o usuário: hardware de ponta, sistema operacional maduro, iTunes, App Store, iBookstore, etc. Alguns o chamam de presídio de luxo. Há um toque de verdade aí. No entanto, esse modelo (de integração total via um ecossistema robusto) tem agradado a grande maioria das pessoas. Mais do que um presídio de luxo: um belíssimo condomínio fechado.


Fonte: Blog Luis Nassif


domingo, 14 de agosto de 2011

A Superpopulação

Enviado por luisnassif,
sex,12/08/2011-13:00
Por raquel_

Um planeta muito populoso?
por George Minois
Do Le Monde Diplomatique

Há muito tempo, líderes políticos têm discutido a evolução da sua população, confundindo número e potência. Atualmente, se soma a questão do envelhecimento, enquanto ressurge o milenar mito da superpopulação, levantado ainda por Platão e Aristóteles, o que revela que; é mais uma questão de cultura que de números

Fonte:LeMonde,acessada em 14ago2011
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Somos muitos? É preciso controlar a natalidade para cumprir certos objetivos? Operar uma seleção antes do e no nascimento? Incentivar os nascimentos, não importando a qualidade dos pais e sua capacidade de educar os filhos? O homem tem o direito de interferir no processo de procriação? Essas perguntas se colocam desde que existem Estados organizados, com normas culturais e morais.

O espectro da superpopulação voltou à tona em 2008, por causa de uma baixa passageira dos estoques mundiais de alimentos e em razão da acelerada degradação do meio ambiente. Dar uma olhada nos números não é nada reconfortante: 218 mil bocas a mais para alimentar todos os dias no mundo, 80 milhões por ano, um efetivo de trabalho global de quase 7 bilhões, consumo crescente... A população parece ter um peso muito grande em relação aos recursos do planeta.

Mas a humanidade não esperou o início do século XXI para se preocupar com a superpopulação. Quatro séculos antes de nossa era, quando o mundo tinha menos de 200 milhões de habitantes, Platão e Aristóteles já recomendavam aos Estados uma estrita regulamentação da natalidade – o que revela a noção de superpopulação mais como uma questão de cultura que de números. Desde o “Crescei e multiplicai-vos” bíblico, vemos o confronto entre natalistas e simpatizantes do controle de natalidade. Os primeiros denunciam a superpopulação como uma ilusão; os últimos advertem sobre suas consequências.

Durante muito tempo não se dispôs de estatísticas. Como não era possível apoiar-se em dados confiáveis, o debate era acima de tudo filosófico, religioso ou político. Mas ainda hoje, a despeito da massa de dados disponíveis, continuam sendo em larga medida as orientações ideológicas e religiosas que definem o lado de cada um. Falar em superpopulação toca convicções fundamentais sobre a vida e seu valor. Daí a paixão com que o assunto é tratado.

Por milhares de anos temeu-se, sobretudo, um número muito baixo de nascimentos. Houve, no entanto, épocas em que regiões e países inteiros – como a Europa no fim do século XIII e início do XIV – enfrentaram uma grave superpopulação (embora relativa), levando até os teólogos a nuançar suas posições. As considerações morais sobre a castidade ou a “superioridade da virgindade” também entraram em debate, bem como a legalidade das práticas contraceptivas. Enfim, as proibições bíblicas sobre o onanismo (o “crime de Onã”, que derramou sua semente na terra) pesaram durante muito tempo sobre as discussões.

Há quarenta mil anos, com meio milhão de habitantes sobre a Terra, a ameaça de superpopulação podia parecer bastante longínqua. Porém os caçadores necessitavam de um espaço vital que assegurasse seu aprovisionamento de caça: em média, de 10 a 25 quilômetros quadrados por pessoa, o que limitava seriamente o tamanho de cada grupo. Se o número de pessoas vivendo exclusivamente da caça e da coleta fosse além da faixa entre 25 e 50, o grupo ficava exposto a grandes dificuldades de abastecimento. A superpopulação é, portanto, uma noção de geometria variável, estreitamente ligada aos recursos disponíveis. Mesmo assim, sua representação continua sendo a de pessoas comprimidas em um espaço diminuto, como sardinhas em lata.

Eugenista, malthusiano e... xenófobo

O número logo virou uma obsessão. Nas cidades gregas, o relevo impunha uma compartimentação: cada bacia se organizava como cidade independente, em células fechadas de dimensões reduzidas, onde a pressão humana era fortemente sentida; tal situação favorecia a tomada de consciência do fator demográfico. O clima político era pouco favorável à natalidade.

Em seus dois principais diálogos, A repúblicae As leis, Platão define uma população ótima em função do espaço e dos recursos disponíveis, e descreve os métodos de organização e funcionamento social – muitas vezes no limite extremo da realidade – necessários para alcançá-la. Na Política, Aristóteles segue o mesmo caminho: “O que faz a grandeza de uma cidade não é ser populosa”.1De todo modo, segundo ele, “um número grande demais não pode admitir a ordem: quando há cidadãos demais, eles escapam ao controle, as pessoas não se conhecem, favorecendo a criminalidade. Além disso, torna-se fácil para estrangeiros e metecos usurpar o direito de cidadania, passando despercebidos em razão de seu número excessivo”.2 E além do mais, muita gente significa muitos pobres, com o perigo de revolta. Não são tanto os recursos ou a alimentação que inquietam Aristóteles, mas a manutenção da ordem. O pensamento demográfico grego já coloca os termos do debate tal como o encontramos no período moderno e contemporâneo: ele é eugenista, malthusiano e... xenófobo!

Com a extensão do domínio romano, muda-se de escala, mas não necessariamente de mentalidade. A política dos governos é mais natalista. O que constitui ao mesmo tempo uma novidade e um fracasso, pois a fecundidade romana continuou fraca em comparação à de outras civilizações, como evidencia Tito Lívio: “A Gália era tão rica e tão povoada que sua população, muito numerosa, parecia difícil de manter. O rei, já idoso, desejando desencarregar o reino dessa multidão que o esmagava, enviou seus dois sobrinhos mundo afora em busca de novas terras”.3 Propaganda política: sendo muito numerosos, eles atacam seus vizinhos, os romanos, justificando em resposta a invasão da Gália.

Com o cristianismo, entre os séculos III e V, as autoridades abandonam qualquer intervencionismo. A questão da procriação passa do campo cívico e político para o registro religioso e moral. Um intenso debate se estabeleceu em torno dos méritos respectivos da virgindade – apresentada como virtude suprema a ser exaltada –, do casamento – desqualificado em favor do ascetismo – e do segundo casamento – digno de punição. Nesse clima austero, a questão continuava a mesma: deve-se povoar ou despovoar? Ser fecundos ou abstinentes? Para os cristãos, a resposta só podia ser encontrada na palavra divina. Mas os escritos bíblicos se contradizem... O trabalho dos padres da Igreja era mostrar, por força de acrobacias e contorcionismos retóricos, que tais contradições não existem, que Deus tem somente uma palavra, embora tenha ordenado a Adão e Eva que se multiplicassem, e em seguida tenha dito a São Paulo, no Novo Testamento: “É bom para o homem abster-sede sua esposa”.A tarefa não é fácil, mas, para os teólogos, nada é impossível. Porém, o Velho Testamento não traz nenhuma ambiguidade: “Crescei, multiplicai-vos, sede fecundos”.E prolíficos...


O povo, riqueza e flagelo

A relativa superpopulação da Idade Média teve efeitos muito concretos. Desde o fim do século XI, os ocidentais souberam explorar o peso do número. Eles tomaram consciência de sua superioridade numérica e fizeram dela uma arma. O papa Urbano II, em 1095, enviou hordas de cavaleiros a Jerusalém. Toda a epopeia das Cruzadas foi sustentada por um fluxo contínuo de Oeste para Leste, que não teria sido possível sem um excedente de população no seio da cristandade.

Assim seguiu o mundo ocidental até o início do século XIX. Homens da Igreja, intelectuais, teólogos, filósofos e escritores revezaram-se na teorização sobre a questão demográfica, navegando entre o medo do transbordamento e o trauma do grande vazio, as utopias natalistas e a inquebrantável fé na ordem divina como potência reguladora da presença do ser humano na Terra. O vulgum pecus, o povo, ora era visto como um flagelo, ora como uma riqueza. Todos desenvolveram suas explicações e formularam suas recomendações, embora a ferramenta estatística continuasse muito deficiente. Subpopulação, superpopulação: ao longo dos séculos, travou-se uma batalha furiosa entre aqueles que consideram uma mais arriscada que a outra para a sobrevivência da espécie humana.

A obra de Thomas Malthus,4 na virada do século XVIII para o XIX, é um divisor de águas na história das teorias demográficas. A população, afirma o economista e pastor britânico, aumenta mais rápido que a produção de alimentos, o que inevitavelmente conduzirá à superpopulação e à fome em grande escala. Ou deixamos assim, e as consequências serão brutais e dolorosas, com a natureza encarregando-se de eliminar o “excedente humano”; ou realizamos o controle de natalidade, começando por suprimir qualquer assistência aos pobres, a fim de incutir-lhes “responsabilidade” – sendo atitude “responsável” casar e ter filhos apenas quando estiverem garantidos os meios para alimentá-los e educá-los. Segundo Malthus, a rápida disseminação da miséria é um risco para a humanidade; é preciso, portanto, erradicá-la.

Pierre-Joseph Proudhon respondeu que não havia problema de superpopulação. Se a miséria se propaga, é por causa do sistema iníquo de propriedade que confere a alguns um poder injusto sobre os outros. Karl Marx, pouco interessado na questão demográfica em si, considerava Malthus um inimigo da classe trabalhadora, referindo-se a ele como “insolente sicofanta das classes dirigentes, culpado do pecado contra a ciência e de difamação da raça humana”.5 Marx acusa Malthus de acreditar em um “princípio da população”, lei natural absoluta, válida em qualquer momento e em qualquer lugar, que faria com que a população aumentasse sempre com mais rapidez que os recursos: “Essa lei da população abstrata só existe para as plantas e os animais, à margem da intervenção histórica do homem. O que importa não é o número de seres humanos, mas a repartição das riquezas”.6

Esses debates prosseguiram até meados do século XX, quando a humanidade entra em um crescimento desenfreado: 3 bilhões de pessoas em 1950; 6 bilhões em 2000. Já não se trata de crescimento, mas de uma explosão. Os demógrafos, economistas, geógrafos, além dos filósofos, historiadores, etnólogos e, claro, os políticos, ficaram divididos quanto à interpretação do fenômeno. Aos defensores da vida prolífera, independentemente de sua qualidade, os realistas opõem o necessário controle da procriação. Uns negam o próprio conceito de superpopulação, falando em desenvolvimento desigual; outros denunciam a loucura assassina dos natalistas, que condenam centenas de milhões de pessoas a morrer de fome. Na década de 1980, entram na conta as questões ambientais e ecológicas.

10 bilhões de habitantes

Na virada do século, os antimalthusianos buscam tranquilizar, apoiando-se nos fenômenos de transição demográfica em curso: as taxas de fecundidade estão desmoronando em todos os lugares, mesmo nos países muito pobres. Oque só confirma a “revolução demográfica” sugerida em 1934 por Adolph Landry, mostrando que, com o enorme crescimento da produção de bens, o problema da relação população/recursos seria superado. A partir daí, o ótimo populacional deveria visar a noção cultural de “felicidade” – noção qualitativa, não quantitativa.

Assim, a população se estabilizaria em torno de 9 bilhões de pessoas por volta de 2050, e 10 bilhões até 2150. Dado que este planeta – garante a maioria dos demógrafos – seria capaz de alimentar 10 bilhões de habitantes, como ele poderia estar “superpopuloso” com 7 bilhões? Se há no mundo um bilhão de pessoas subalimentadas e o dobro disso de pobres, talvez seja, afinal, em razão de uma má repartição dos recursos. Mas é desejável atingir esse número? Afinal, o empilhamento de 10 bilhões de pessoas, mesmo bem alimentadas, continua sendo um empilhamento de gente...

Em 1997, Salman Rushdie escreveu uma Carta ao sexto bilionésimo cidadão do mundo,7que acabava de nascer: “Como mais novo membro de uma espécie particularmente curiosa, você logo se fará as duas perguntas de US$ 64 mil [N. E.: PIB per capitaaproximado dos EUA] que todos os outros 5.999.999.999 se fazem há algum tempo: como chegamos aqui? E agora que estamos aqui, como vivemos? Podemos sem dúvida sugerir que a resposta à questão das origens requer que você acredite na existência de um Ser invisível, inefável, ‘lá de cima’, em um criador onipotente que nós, pobres criaturas, não conseguimos perceber, e muito menos entender... Por causa dessa fé, foi impossível para muitos países evitar que o número de seres humanos crescesse de forma alarmante. A superpopulação do planeta deve-se, pelo menos em parte, à loucura dos guias espirituais da humanidade. Ao longo de sua vida, você verá sem dúvida a chegada do nono bilionésimo cidadão do mundo. E se muitos homens nascem em parte por conta da oposição religiosa ao controle de natalidade, muita gente ainda morre também por causa da religião...”.

Treze anos depois, em 2011 ou, no mais tardar, início de 2012, espera-se a chegada do sétimo bilionésimo cidadão do mundo. Esse pequeno tem sete chances em dez de nascer em um país pobre, em uma família desfavorecida. Devemos enviar-lhe uma carta de boas-vindas, ou uma carta de desculpas?

George Minois
Demográfo.


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THOMAS ROBERT MALTHUS
(Ensaio sobre o princípio da população, 1798).
“Acredito poder defender honestamente dois postulados: em primeiro lugar, que a comida é indispensável à existência do homem; em segundo lugar, que a paixão recíproca entre os sexos é uma necessidade que permanecerá mais ou menos igual ao que ela é no presente. Afirmo que o poder multiplicador da população é infinitamente maior que o poder da terra de produzir a subsistência do homem.”
“Se não for contida, a população cresce em progressão geométrica. A subsistência somente cresce em progressão aritmética… Os efeitos desses dois poderes desiguais devem ser mantidos em equilíbrio por meio dessa lei da natureza que faz a comida ser uma necessidade vital para o homem.”
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PIERRE-JOSEPH PROUDHON
(O sistema das contradições econômicas ou filosofia da miséria, 1848)
“Há somente um homem excedente na Terra: Malthus.”
______________
MAQUIAVEL
(Histórias florentinas, 1520-1526).
“Uma nação não pode estar completamente repleta de habitantes, e estes não podem conservar entre eles uma repartição igual, pois todos os lugares não são igualmente salubres e férteis: os homens abundam em um lugar e faltam no outro. Se não é possível remediar essa distribuição desigual, a nação agoniza porque a falta de habitantes torna uma parte deserta, e a outra fica empobrecida por seu excesso de gente.”

Fonte: Blog Luis Nassif