terça-feira, 30 de novembro de 2010

DOCUMENTOS DIVULGADOS POR WikiLeaks DESNUDAM "MODUS OPERANDI" DOS EUA

Documentos revelam infiltrações políticas dos EUA em diferentes países
 
JULIAN ASSANGE PARA A FOLHA
via blog Leituras Favre


Esses documentos mostram a verdadeira história do império americano de 1966 a 2010, da maneira como foi relatada pelas embaixadas de todo o mundo.

São cerca de 285 milhões de palavras sobre intriga diplomática. Se fossem impressas, daria para preencher mais de 3.000 livros.

Os documentos mostram infiltrações políticas dos Estados Unidos em quase todos os países, mesmo naqueles considerados “neutros”, como a Suécia e a Suíça. As embaixadas observam de perto a mídia local, o serviço de inteligência, a indústria de armas e de petróleo e fazem forte lobby para todo tipo de empresas americanas.

Os telegramas das embaixadas dos EUA são a coisa mais interessante que eu já li e o vazamento de informações secretas mais importante da história.

É uma riquíssima documentação sobre como o mundo funciona de fato. Antes mesmo do lançamento do Cablegate, os EUA alertaram quase todos os governos do mundo, tal é o medo que regimes abusivos e relações escusas sejam expostos.

CENSURA
O Reino Unido emitiu uma notificação à imprensa, o DA-notice (um pedido oficial para revisar todo material sobre o tema antes da publicação), o que pode ser visto como uma censura velada.

Assim, nas próximas semanas, vamos poder julgar o clima político em dezenas de países através da maneira como eles respondem.

Será que vão se empenhar numa campanha para desviar as atenções ou será que vão fazer uma campanha para mudar a maneira como as coisas são feitas?

Para esse lançamento, começamos a produzir também reportagens em português no nosso site, porque o WikiLeaks tem muitos apoiadores no Brasil.

A filosofia da nossa organização é compartilhada pelos grupos brasileiros que lutam por liberdade na mídia, na imprensa e na internet.

Temos parceria com o “New York Times” e o “Guardian” para chegar ao público que fala inglês, o “El Pais” para os que falam espanhol, o “Le Monde” para francês e “Der Spiegel” para alemão.

PORTUGUÊS

Mas o português também é uma língua muito importante, e a publicação deste material é de grande interesse para os brasileiros; e de grande interesse para definir os rumos do novo governo.

Desde o começo o WikiLeaks foi construído para ajudar a todo o mundo. Injustiça em qualquer lugar é injustiça em todo lugar.

Nós acreditamos que a internet é uma ferramenta que permite que pessoas corajosas se reúnam para lutar por justiça e vencer. Com a ajuda dos internautas, podemos exigir que a nação superpoderosa preste contas a todos.


Fonte: Blog Leituras Favre


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Como o Wikileaks chegou ao Brasil

Do blog Conversa Afiada
Paulo Henrique Amorim

O Conversa Afiada reproduz o texto da jornalista Natália Viana, responsável pela introdução da “transparência radical” no Brasil.

Note-se que o noticiário da Folha (*) de hoje tentou inutilmente preservar a escandalosa responsabilidade do ministro Serrista Nelson Johnbim, clique aqui para ler “Escândalo ! Ministro da Defesa (dos Estados Unidos) ataca política externa brasileira”.
Conversa Afiada - PHA

Por dentro do Wikileaks: a democracia passa pela transparência radical

Natália Viana

Fui convidada por Julian Assange e sua equipe para trazer ao público brasileiro os documentos que interessam ao nosso país. Para esse fim, o Wikileaks decidiu elaborar conteúdo próprio também em português. Todos os dias haverá no site matérias fresquinhas sobre os documentos da embaixada e consulados norte-americanos no Brasil.

Por trás dessa nova experiência está a vontade de democratizar ainda mais o acesso à informação. O Wikileaks quer ter um canal direto de comunicação com os internautas brasileiros, um dos maiores grupos do mundo, e com os ativistas no Brasil que lutam pela liberdade de imprensa e de informação. Nada mais apropriado para um ano em que a liberdade de informação dominou boa parte da pauta da campanha eleitoral.

Buscando jornalistas independentes, Assange busca furar o cerco de imprensa internacional e da maneira como ela acabada dominando a interpretação que o público vai dar aos documentos. Por isso, além dos cinco grandes jornais estrangeiros, somou-se ao projeto um grupo de jornalistas independentes. Numa próxima etapa, o Wikileaks vai começar a distribuir os documentos para veículos de imprensa e mídia nas mais diversas partes do mundo.

Assange e seu grupo perceberam que a maneira concentrada como as notícias são geradas – no nosso caso, a maior parte das vezes, apenas traduzindo o que as grandes agências escrevem – leva um determinado ângulo a ser reproduzido ao infinito. Não é assim que esses documentos merecem ser tratados: “São a coisa mais importante que eu já vi”, disse ele.

Não foi fácil. O Wikileaks já é conhecido por misturar técnicas de hackers para manter o anonimato das fontes, preservar a segurança das informações e se defender dos inevitáveis ataques virtuais de agências de segurança do mundo todo.

Assange e sua equipe precisam usar mensagens criptografadas e fazer ligações redirecionados para diferentes países que evitam o rastreamento. Os documentos são tão preciosos que qualquer um que tem acesso a eles tem de passar por um rígido controle de segurança. Além disso, Assange está sendo investigado por dois governos e tem um mandado de segurança internacional contra si por crimes sexuais na Suécia. Isso significou que Assange e sua equipe precisam ficar isolados enquanto lidam com o material. Uma verdadeira operação secreta.


Documentos sobre Brasil

No caso brasileiro, os documentos são riquíssimos. São 2.855 no total, sendo 1.947 da embaixada em Brasília, 12 do Consulado em Recife, 119 no Rio de Janeiro e 777 em São Paulo.

Nas próximas semanas, eles vão mostrar ao público brasileiro histórias pouco conhecidas de negociações do governo por debaixo do pano, informantes que costumam visitar a embaixada norte-americana, propostas de acordo contra vizinhos, o trabalho de lobby na venda dos caças para a Força Aérea Brasileira e de empresas de segurança e petróleo.

O Wikileaks vai publicar muitas dessas histórias a partir do seu próprio julgamento editorial. Também vai se aliar a veículos nacionais para conseguir seu objetivo – espalhar ao máximo essa informação. Assim, o público brasileiro vai ter uma oportunidade única: vai poder ver ao mesmo tempo como a mesma história exclusiva é relatada por um grande jornal e pelo Wikileaks. Além disso, todos os dias os documentos serão liberados no site do Wikileaks. Isso significa que todos os outros veículos e os próprios internautas, bloggers, jornalistas independentes vão poder fazer suas próprias reportagens. Democracia radical – também no jornalismo.

Impressões

A reação desesperada da Casa Branca ao vazamento mostra que os Estados Unidos erraram na sua política mundial – e sabem disso. Hillary Clinton ligou pessoalmente para diversos governos, inclusive o chinês, para pedir desculpas antecipadamente pelo que viria. Para muitos, não explicou direto do que se tratava, para outros narrou as histórias mais cabeludas que podiam constar nos 251 mil telegramas de embaixadas.

Ainda assim, não conseguiu frear o impacto do vazamento. O conteúdo dos telegramas é tão importante que nem o gerenciamento de crise de Washington nem a condenação do lançamento por regimes em todo o mundo – da Austrália ao Irã – vai conseguir reduzir o choque.

Como disse um internauta, Wikileaks é o que acontece quando a superpotência mundial é obrigada a passar por uma revista completa dessas de aeroporto. O que mais surpreende é que se trata de material de rotina, corriqueiro, do leva-e-traz da diplomacia dos EUA. Como diz Assange, eles mostram “como o mundo funciona”.

O Wikileaks tem causado tanto furor porque defende uma ideia simples: toda informação relevante deve ser distribuída. Talvez por isso os governos e poderes atuais não saibam direito como lidar com ele. Assange já foi taxado de espião, terrorista, criminoso. Outro dia, foi chamado até de pedófilo.

Wikileaks e o grupo e colaboradores que se reuniu para essa empreitada acreditam que injustiça em qualquer lugar é injustiça em todo lugar. E que, com a ajuda da internet, é possível levar a democracia a um patamar nunca imaginado, em que todo e qualquer poder tem de estar preparado para prestar contas sobre seus atos.

O que Assange traz de novo é a defesa radical da transparência. O raciocínio do grupo de jornalistas investigativos que se reúne em torno do projeto é que, se algum governo ou poder fez algo de que deveria se envergonhar, então o público deve saber. Não cabe aos governos, às assessorias de imprensa ou aos jornalistas esconder essa ou aquela informação por considerar que ela “pode gerar insegurança” ou “atrapalhar o andamento das coisas”. A imprensa simplesmente não tem esse direito.

É por isso que, enquanto o Wikileaks é chamado de “irresponsável”, “ativista”, “antiamericano” e Assange é perseguido, os cinco principais jornais do mundo que se associaram ao lançamento do Cablegate continuam sendo vistos como exemplos de bom jornalismo – objetivo, equilibrado, responsável e imparcial.

Uma ironia e tanto.

*Natália Viana é jornalista e
colaboradora do Opera Mundi


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.
PHA




Fonte: Blog Conversa Afiada - PHA


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WIKILEAKS PUBLICA TELEGRAMAS CONFIDENCIAIS DAS EMBAIXADAS AMERICANAS SOBRE O BRASIL

Press Release - Cablegate: Telegramas das embaixadas

Domingo, 28 de novembro de 2010


WIKILEAKS PUBLICA TELEGRAMAS CONFIDENCIAIS DAS EMBAIXADAS AMERICANAS


A partir do dia 28 de novembro de 2010, o WikiLeaks começou a publicar 251.287 telegramas de embaixadas americanas pelo mundo - o maior vazamento de documentos confidenciais da história.

Para a organização, os documentos vão permitir que pessoas de todo o mundo conheçam a fundo como funcionam as atividades americanas no exterior.

Os telegramas, que cobrem desde 1966 até o final de fevereiro de 2010, contêm informações confidenciais enviadas por 274 embaixadas em diversos países e pelo Departamento de Estado em Washington para essas embaixadas.


Do total, 15.652 são classificados como secretos.

"Os telegramas mostram os EUA espionando seus aliados e a ONU; ignorando a corrupção e abusos de direitos humanos em Estados ‘serviçais’; negociando a portas fechadas com Estados supostamente neutros e fazendo lobby em prol das corporações americanas”, diz o porta-voz da organização, Julian Assange.
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Os Documentos  sobre o Brasil

No caso brasileiro, o WikiLeaks obteve 1.947 documentos enviados pela embaixada em Brasília entre 1989 e 2010. Desses, 54 são classificados como secretos e 409 como confidenciais.

O ano de 2009 foi o recordista em telegramas: foram 348, quase um por dia. Em 2010, foram 59 comunicados de janeiro a fevereiro apenas.

Além deles há 12 do consulado de Recife, 119 do Rio de Janeiro e 778 de São Paulo.

Eles revelam como os diplomatas americanos realmente vêem o Brasil à medida que o país busca reconhecimento internacional – nem sempre com bons olhos – e como a embaixada faz lobby pelos interesses dos EUA, desde petróleo até a venda de equipamentos militares.

Também relatam encontros com autoridades, membros do governo e da oposição, jornalistas e diplomatas de outros países. Revelam como os diplomatas americanos narraram alguns dos acontecimentos políticos e econômicos mais importantes dos últimos sete anos. E como os EUA continuam buscando influenciar a política nacional, mesmo na era Obama, fazendo lobby contra governos vizinhos.

Entre outras coisas, os documentos mostram que os EUA trabalham proximamente com o Brasil em operações de contraterrorismo e que vêem buscando um papel maior em termos de segurança e combate às drogas.

Telegramas enviados pela embaixada dos EUA em Brasília 
Total:
  • 1.947 54 secretos
  • 409 confidenciais
Por ano:
  • 1989 - 1
  • 2002 - 1
  • 2003 - 45
  • 2004 - 196
  • 2005 - 306
  • 2006 - 391
  • 2007 - 321
  • 2008 - 279
  • 2009 - 348
  • 2010 - 59
  • Consulado em Recife - 12
  • Consulado no Rio de Janeiro - 119
  • Consulado de São Paulo - 777
Total do Brasil: 2855

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"A publicação desses documentos revela a contradição entre a persona pública dos EUA e o que a potência faz por debaixo dos panos. E também porvam que, se os cidadãos querem que seus governos hajam de acordo com as suas aspirações, devem exigir explicações sobre o que acontece às escondidas".

"Toda criança americana aprende que George Washington, o primeiro presidente dos EUA, não conseguia mentir. Se as administrações atuais seguissem o mesmo princípio, o vazamento de hoje seria apenas um pequeno vexame" diz Julian Assange. "Em vez disso, os EUA têm alertado governos ao redor do mundo - até mesmo os mais corruptos - sobre a publicação de hoje e se armando para a exposição que fatalmente irão enfrentar."

Diferentemente dos outros lançamentos do WikiLeaks, nas quais uma grande quantidade de documentos foi publicada de uma vez, a organização vai lançar os arquivos das embaixadas ao longo das próximas semanas.

"Os telegramas da embaixada vão ser lançados em etapas. Consideramos que o tema é tão importante e o alcance geográfico tão amplo que se publicássemos tudo de uma vez não estaríamos fazendo justiça a esse material”.
"Devemos a quem nos confiou material garantir o tempo necessário para que ele seja noticiado, comentado e discutido amplamente - o que seria impossível se centenas de milhares de documentos fossem publicados de uma só vez".

"Enquanto os documentos mostram cinismo e abuso diplomáticos chocantes, o fato desse material ter vazado prova que existem pessoas boas e corajosas dentro do governo que acreditam em transparência e em uma política exterior mais ética”, afirma Julian. “Essas pessoas estão buscando reformar as instituições para as quais trabalham. O lançamento de hoje mostra que elas também têm poder. Mas é a resposta o mundo a esses documentos que vai determinar se a sua publicação levará a uma mudança".

“Assim, nas próximas semanas vamos poder julgar o clima político em dezenas de países através da maneira como eles respondem. Será que vão se empenhar numa campanha para desviar as atenções ou será que vão fazer uma campanha para mudar a maneira como as coisas são feitas?”
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Os telegramas, em números:

No total, são 251.288 documentos, ou 261.276.536 de palavras (sete vezes mais do que nos arquivos secretos sobre o Iraque).

Uma pessoa lendo com atenção levaria 70 anos para ler todos os arquivos.

Os telegramas são de 1966 até o final de fevereiro de 2010 e são provenientes de 274 embaixadas, representações e consulados.

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Os principais assuntos são:

  • Relações internacionais – 145.451
  • Assuntos internos dos governos – 122.896
  • Direitos humanos – 55.211
  • Condições econômicas – 49.044
  • Terroristas e terrorismo – 28.801
  • O Conselho de Segurança da ONU – 6.532
O Iraque é o país mais discutido – 15.365 telegramas (desses, 6.677 foram enviados do Iraque)

A embaixada de Ancara, na Turquia, foi a que mais enviou telegramas – 7.918

8.017 telegramas foram enviados pelo Departamento de Estado.

15.652 telegramas são secretos, 101.748 são confidenciais e 133,887 não são classificados.


Contato (somente para veículos com público superior a 500 mil)



Fonte: WIKILEAKS


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Dilma terá representante dos EUA em seu ministério

Documentos confidenciais revelam que, para EUA, Itamaraty é adversário

FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA
via blog viomundo

da Folha

Telegramas confidenciais de diplomatas dos EUA indicam que o governo daquele país considera o Ministério das Relações Exteriores do Brasil como um adversário que adota uma “inclinação antinorte-americana”.

Esses mesmos documentos mostram que os EUA enxergam o ministro da Defesa, Nelson Jobim, como um aliado em contraposição ao quase inimigo Itamaraty.

Mantido no cargo no governo de Dilma Rousseff, o ministro é elogiado e descrito como “talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil”.

A Folha leu com exclusividade seis telegramas de um lote de 1.947 documentos elaborados pela Embaixada dos EUA em Brasília, sobretudo na última década.

Os despachos foram obtidos pela organização não governamental WikiLeaks. As íntegras desses papéis estarão hoje no site da ONG, que também produzirá reportagens em português. O site da Folha divulgará os telegramas completos.

Num dos telegramas, de 25 de janeiro de 2008, o então embaixador dos EUA em Brasília, Clifford Sobel, relata aos seus superiores como havia sido um almoço mantido dias antes com Nelson Jobim. Nesse encontro, o ministro brasileiro contribuiu para reforçar a imagem negativa do Itamaraty perante os norte-americanos.

Indagado sobre acordos bilaterais entre os dois países, Jobim citou o então secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães.

Segundo o relato produzido por Clifford Sobel, “Jobim disse que Guimarães ‘odeia os EUA’ e trabalha para criar problemas na relação [entre os dois países]“.

Não há nos seis telegramas confidenciais lidos pela Folha nenhuma menção a atos ilícitos nas relações bilaterais Brasil-EUA. São apenas descrições de encontros, almoços e reuniões.

Ao mencionar um acordo bilateral, Clifford Sobel diz que caberá ao presidente Lula decidir entre as posições de um “inusualmente ativo ministro da Defesa interessado em desenvolver laços mais próximos com os EUA e um Ministério das Relações Exteriores firmemente comprometido em manter controle sobre todos os aspectos da política internacional”.

Num telegrama de 13 de março de 2008, Sobel afirma que o Itamaraty trabalhou ativamente para limitar a agenda de uma viagem de Jobim aos EUA.

Ao relatar a visita (de 18 a 21 de março de 2008), os EUA pareciam frustrados: “Embora existam boas perspectivas para melhorar nossa relação na área de defesa com o Brasil, a obstrução do Itamaraty continuará um problema”.


CAÇAS DA FAB

Apesar de elogiado, Jobim nunca apresentou em reuniões nenhuma proposta especial aos EUA a respeito da licitação dos 36 aviões caça que serão comprados pela Força Aérea Brasileira.

Em todos os relatos confidenciais os diplomatas dos EUA em Brasília mencionam frases de Jobim que coincidem com o que o ministro declarou em público.

Em uma ocasião, por exemplo, os norte-americanos escrevem: “Compras de fornecedores dos EUA serão mais competitivas quando [o país] autorizar uma produção brasileira de futuros sistemas militares”.

Procurado pela Folha, o Departamento de Estado dos EUA se recusou a comentar as comunicações sigilosas.

Uma porta-voz do departamento enfatizou que os países mantêm boas relações. A Casa Branca não respondeu à reportagem até a conclusão desta edição.

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O ministro Nelson Jobim nega que tenha dito o que o embaixador americano disse que ele disse.

Segundo a Folha:

A assessoria do Ministério da Defesa enviou um comunicado à imprensa para rechaçar a informação. Segundo a nota, ele já teria esclarecido a Guimarães que a conversa com Sobel existiu, mas em outros termos: Jobim teria tratado-o “com respeito” e classificado Guimarães como “um nacionalista, um homem que ama profundamente o Brasil”. O ministro chamou Guimarães de “meu amigo” e disse que Sobel teria interpretado errado sua mensagem. “Se o embaixador disse que Samuel não gosta dos Estados Unidos, isso é interpretação do embaixador, eu não disse isso. Samuel é meu amigo.”

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Telegramas das enviadas pela embaixada dos EUA no Brasil para Washington revela que Ministro da Defesa, Nelson Jobim, é visto como ’ativista’ pró-EUA, clique leia e tire suas conclusões.



Fonte: Blog Viomundo - Luiz carlos Azenha


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PIB paulista perde mais de R$ 128 bilhões

segunda-feira, 29nov2010
Transparência SP
via blog viomundo

Falta de política de desenvolvimento no Estado provoca lenta decadência do PIB de São Paulo. Minas e Nordeste ganham espaço na economia brasileira nos últimos 13 anos.

Em 1995, a economia paulista representava 37,3% da economia brasileira. Em 2002, 34,6% e em 2008 caiu para 33,1%. Estes dados podem ser obtidos através do levantamento da evolução do PIB (Produto Interno Bruto) Estadual feito pelo IBGE.

Em outros termos, a perda de São Paulo chegou a R$ 128 bilhões, um orçamento público paulista anual inteiro. A perda foi generalizada, atingindo todos os setores econômicos: na indústria (-10,6%), no setor de serviços (-2,2%), na administração pública (-1,8%) e na agropecuária (-2,5%).
A razão dessa perda tem raízes no processo de desconcentração da indústria e na guerra fiscal dos Estados, mas também na falta de um projeto de desenvolvimento para o Estado de São Paulo, um projeto que buscasse potencializar as vocações das diferentes regiões. Durante esse período, os governos que comandaram o Estado de São Paulo implantaram uma política de orientação neoliberal. Inimigos do desenvolvimento econômico e social, privatizaram um patrimônio público de mais de R$ 80 bilhões.

Diversos são os exemplos da ausência de uma política desenvolvimentista para o Estado. Um deles: com as privatizações, boa parte dos lucros das empresas vendidas foi enviado para as respectivas matrizes [no exterior], deixando de ser reaplicado no Estado.
Mais ainda, empresas privatizadas têm significado mais desemprego e maior precarização do trabalho, sobretudo através das terceirizações.Com a privatização e venda de instituições públicas financeiras, o Estado de São Paulo também vem enterrando qualquer política de planejamento e financiamento de longo prazo do desenvolvimento econômico.

A política de “ajuste fiscal permanente” também reduziu investimentos na infraestrutura de transporte público metropolitano, na habitação, no saneamento, na educação e nas demais áreas sociais, tornando o Estado e suas principais cidades menos atrativos.

A ampliação da antecipação (substituição) tributária do ICMS e a multiplicação de pedágios, os mais caros do país, têm ampliado o custo paulista e a carga tributária bruta estadual, desestimulando investimentos no Estado.

A falta de uma política de desenvolvimento que busque articular de forma massiva as diversas instituições públicas de ensino e pesquisa e as iniciativas privadas de inovação produtiva, em todos os segmentos, vem representando um grande disperdício para o enorme potencial de desenvolvimento do Estado.

A extrema concentração das oportunidade de emprego na capital e num raio de 100 km de distância, sem que o poder público estadual incentive a desconcentração do desenvolvimento, têm levado a “soluções de mercado” por parte das empresas, que abandonam a Região Metropolitana de São Paulo em busca de outras regiões, normalmente em outros Estados.

O sul de Minas, o Mato Grosso do Sul e o norte do Paraná têm sido o destino recorrente destas empresas. Uma situação específica reflete esta falta de política para a desconcentração do desenvolvimento econômico do Estado: por que todos os órgãos públicos estaduais, de todos os poderes, estão localizados de forma dispersa na capital paulista?

A queda da participação do PIB paulista mostra, portanto, não apenas o resultado da ação política dos outros Estados – como insiste em lembrar o governo paulista e a mídia -, mas também o custo do “ajuste fiscal permanente” e a consequente inércia dos governantes do Estado de SP.

É bom ressaltar que a queda do PIB reflete, na prática, uma menor atratividade econômica para novos investimentos, menor participação na arrecadação de impostos, nível de vida mais baixo, dificuldades na geração de novos emprego e dificuldades na expansão dos serviços prestados pelo poder público.

Analisando a evolução do PIB Estadual no Brasil, o Sudeste perdeu R$ 94 bilhões, perda esta que se concentrou em São Paulo. O Rio de Janeiro ampliou sua participação no PIB Nacional, passando de 11,2% em 1995 para 11,3% em 2008 (+ R$ 4 bilhões). Minas Gerais também apresentou elevação expressiva na sua participação no PIB Nacional, passando de 8,6% para 9,3% (+ R$ 20,7 bi). O Espírito Santo passou de 2% para 2,3% (+ R$ 9,5 bi).
Além de São Paulo, outros dois Estados tiveram queda significativa na participação no PIB Nacional: Rio Grande do Sul (- R$ 14,8 bilhões) e o Distrito Federal (- R$ 16,2 bilhões).
Produto Interno Bruto a preços de mercado, Brasil,
segundo grandes Regiões e Unidades da Federação
período de 1995 a 2007

O maior ganho em participação na economia nacional é na região Nordeste que cresceu 1,1% e ganhou R$ 32,4 bilhões, com destaque para o Maranhão (+ R$ 11 bilhões) e para a Bahia (+ R$ 8 bilhões).

Em seguida, vem a região Norte, com ganhos de R$ 26,7 bilhões, em especial os estados do Pará (+ R$ 10,9 bilhões) e Amazonas (+ R$ 3,55 bilhões).

O Centro Oeste ganhou R$ 24 bilhões, sendo que este crescimento foi “puxado” pelo Mato Grosso (+ R$ 21,57 bilhões) e Goiás (+ R$ 13,1 bilhões). A região Sul apresentou elevação de R$ 10,9 bilhões, com destaque para Paraná (+ R$ 6,57 bilhões) e Santa Catarina (+ 19,2 bilhões).



Fonte: Blog Viomundo - Luiz carlos Azenha



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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

ProUni - Um Brasil de preconceitos

Vítimas de piadas racistas e ignorados pelo restante dos alunos, os bolsistas se esforçam para superar a exclusão dentro das próprias salas de aula

Mariana Lenharo
JORNAL DA TARDE

Os colegas de turma de Juliano Tenório da Silva, estudante de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), não o cumprimentam nos corredores da instituição. Nayla Paganini, também aluna da PUC-SP, é alvo de comentários por não se vestir com roupas caras como as outras garotas da classe. Já o publicitário José Geraldo da Silva Junior, que estudou na Universidade Metodista de São Paulo, ainda não entende por que o nome dele e dos outros bolsistas da sala vinham por último na lista de chamada, fora da ordem alfabética.

Os três conseguiram ingressar em instituições de ensino conceituadas da cidade graças ao Programa Universidade para Todos do Ministério da Educação, o ProUni, que concede bolsas em universidades particulares para alunos de baixa renda (leia as histórias de cada um deles aqui).

Neste ano, 84.817 estudantes foram beneficiados no Estado de São Paulo com auxílios integrais ou parciais. À medida que o programa amplia o acesso das camadas sociais mais baixas ao ensino superior pago, aumentam também os casos de bolsistas que se sentem vítimas de preconceito na sala de aula.

Na semana passada, o Jornal da Tarde noticiou o caso da estudante negra Meire Rose Morais, de 46 anos, que recebeu e-mails ofensivos e racistas de uma colega de classe da PUC-SP. Tudo começou quando, às vésperas do segundo turno das eleições, Meire encaminhou uma análise política para a lista de e-mails de sua classe. Em poucos minutos, 33 e-mails de uma única pessoa lotavam sua caixa de entrada: eram piadas preconceituosas e uma mensagem de que Meire nunca mais irá esquecer.

Em um mesmo texto, a agressora chamava a aluna de prostituta, caracteriza seu pé como “grotesco”, zombava de seu cabelo e ainda criticava suas roupas. “Chorei durante cinco dias. Fiquei me sentindo um nada, ela quis me ofender em todas as minhas características”, lembra.Meire conta que o e-mail foi o ápice do preconceito, com o qual ela já convivia, em doses menores, desde o início do curso.

“Quando entrei na PUC, em 2005, existia um clima de medo, como se os alunos do ProUni fossem fazer a qualidade da instituição cair”, diz. Por isso, segundo a estudante, os bolsistas sempre sentiram vergonha de se manifestar, com medo de ser apontados como aqueles que estavam prejudicando a qualidade do ensino.

Na sexta-feira, as agressões contra Meire provocaram uma reação na universidade. Em moção de repúdio assinada pelas associações dos professores e dos funcionários da PUC e pelo Conselho dos Centros Acadêmicos da universidade, a atitude foi caracterizada como reveladora de um “ódio antipovo”, marcado pela “presença de uma intolerância raivosa no interior da PUC-SP, que se dirige contra tudo o que se diferencie de um pretenso padrão estético, moral e político”.

Prestes a concluir o curso de Direito, Meire vai apresentar nesta semana um requerimento administrativo na PUC-SP para que a universidade ouça os alunos envolvidos na questão e avalie a punição para os responsáveis. Além disso, pede que a universidade desenvolva atividades oficiais de combate à intolerância. Procurada pela reportagem, a PUC-SP não se manifestou sobre o caso.

Para a educadora Quézia Bombonatto, esse tipo de comportamento pode ser considerado como uma forma de bullying. “Embora seja mais comum entre adolescentes e crianças, muitos sofrem bullying na universidade e no trabalho. A universitária que ofendeu a outra estudante com certeza não consegue lidar com a diversidade e sente-se ameaçada em seu reduto”, analisa.

Para o advogado Cleyton Wenceslau Borges, representante da Uniafro Brasil, instituição educacional voltada para negros e pessoas de baixa renda, é importante que as universidades conveniadas ao ProUni disponham de um espaço institucional para tratar do tema do preconceito. “Corre-se o risco de aumentar a distribuição de bolsas sem que essas instituições se voltem para dentro de si para verificar se está havendo esse tipo de enfrentamento racial”, acredita.

FRASES
“O aluno universitário que pratica o preconceito também é vítima de uma sociedade que não o preparou para conviver com as diferenças”
FREI DAVID R. DOS SANTOS,
FUNDADOR DA EDUCAFRO

“Chorei durante cinco dias. Fiquei me sentindo um nada, ela quis me ofender em todas as minhas características”
MEIRE ROSE MORAES, ALUNA DE DIREITO DA PUC,
VÍTIMA DE E-MAILS PRECONCEITUOSOS DE UMA COLEGA

“É como se eu carregasse uma placa dizendo que sou diferente dos outros, que sou bolsista”
JULIANO TENÓRIO DA SILVA,
ALUNO DE DIREITO DA PUC
“Não conseguimos nos integrar nos grupos de trabalho, ficamos em um grupo isolado. Estava excluído. Os outros alunos comentavam que eles é que pagavam a mensalidade”
JOSÉ GERALDO DA SILVA JUNIOR,
FORMADO EM PUBLICIDADE PELA METODISTA

Fonte: Leituras Favre


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domingo, 28 de novembro de 2010

O Estado e o crime organizado no RIO

Revisado ás 15:35hs 28nov2010
Abaixo, transcrevo duas reportagens, um da BBC Brasil e outro do Correio do Brasil, sobre os conflitos que vêm ocorrendo no Rio de Janeiro. São dois posicionamentos que, a princípio pareçam ser divergentes, se olharmos com mais precisão elas se complementam. Ao final da leitura ficam várias perguntas não respondidas. Quem são os que estão por trás deste rico mercado do tráfico e quais grupos de interesse está por trás desse show midiático? Eles são o mesmo grupo ou de interesses diversos? São nacionais ou estrangeiros? Fica só uma certeza, é a de que as UPPs aproximaram os cidadãos e o Estado e deram uma balançada no jogo e na hegemonia de interesses, isso fez. Se isso vai perdurar é outra história.
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Perda de espaço motiva ataques do tráfico, dizem analistas



Júlia Dias Carneiro
da BBC Brasil no R J

Unidades de Polícia Pacificadora avançam em locais antes dominados por criminosos.
A progressiva perda de espaços antes dominados pelo tráfico causada pelo avanço das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) é vista por analistas como uma das principais desencadeadoras da onda de ataques no Rio.

Foto: Airpano.ru
Para o sociólogo e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Gláucio Soares, a instalação de UPPs resultou “numa redução considerável de renda” para os traficantes, e na perda de um domínio territorial que já somava décadas.

Além das UPPs, o sociólogo David Morais, da Universidade Cândido Mendes, diz que o surgimento das milícias – outra forma de poder paralelo nos morros, ligadas a policiais ou ex-policiais corruptos – também contribuiu para encolher ainda mais os espaços de que antes desfrutavam os traficantes.

“O monopólio territorial do tráfico começa a cair com o surgimento das UPPs, e paralelamente você tem as milícias, que começam a concorrer nas mesmas atividades. Então os traficantes têm que buscar outros lugares para continuar suas atividades ilícitas”, explica.

Morais afirma que descer para o asfalto não é a alternativa automática. “Nas favelas, o crime é muito mais fácil, porque não faltam vias de fuga que viaturas não podem acessar”.


Motivação política

O antropólogo Rubem César Fernandes, da ONG Viva Rio, vê motivação política por trás dos ataques, lembrando que estamos num momento de transição entre um mandato político e outro. A situação lembra a virada de 2006 para 2007, quando uma série de ataques – incluindo ônibus queimados e policiais mortos – foi realizada antes da posse do governador Sérgio Cabral.
“Por um lado, as ações parecem ser intervenções para influenciar nessa mudança. O que está diferente, entretanto, é que elas parecem ser mais coordenadas que das outras vezes, e os métodos adotados mudaram. Está havendo uma articulação territorial muito ampla, e as ações são rápidas, sem deixar vítimas”
Rubem César Fernandes

Foto:UOL. acessado em 28nov2010
Ônibus incendiado na avenida Presidente
Vargas, centro do Rio, UOL Noticias


“Estão queimando para a fotografia, para provocar uma imagem na opinião pública.”
Rubem César Fernandes

O que também mudou desta vez, aponta Fernandes, é que pela primeira vez há um ânimo na sociedade acompanhando o governo nas reconquistas dos territórios.

“Com as UPPs, criou-se um horizonte. E a resposta está vindo mais forte do que os traficantes imaginaram”, diz Fernandes, citando a articulação veloz entre o governo do Estado e Marinha para o uso de veículos blindados na operação realizada quinta-feira.

“Acho que o feitiço virou contra o feiticeiro”, afirma, torcendo para que o momento represente “a virada de mais uma página importante na conquista dos territórios”.

Entrosamento com a comunidade

Para Gláucio Soares, o entrosamento das polícias pacificadoras com as comunidades prejudicou ainda mais o crime. “Nas favelas liberadas, a população tem mostrado uma grande aprovação. Isso transforma o traficante numa figura indesejada”, diz ele.

Exemplo para tal é o aumento de ligações feitas ao Disque Denúncia. “Antes, as pessoas não denunciavam por medo de represália. Agora, aumentou a apreensão de drogas, armas e a prisão de traficantes com base em denúncias”, diz Soares.

Santa Marta foi a primeira comunidade do Rio
a ter UPP instalada, livrando os moradores do
domínio do tráfico. Blog Chebola
De acordo com o sociólogo, o que difere este momento de outras escaladas de violência no passado é a relação com as UPPs. Ele ressalta, entretanto, que os eventos ocorridos não são novidade.

“É preciso não perder a memória. De 2000 a 2009, 822 ônibus foram queimados e depredados por bandidos no Rio”, diz, citando dados da federação de transportes do Estado.

Já David Morais considera que há outro diferencial: a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. “O Rio vai se transformar num foco de atenção em função desses dois grandes eventos, que vão atrair muito investimento e muito turismo, mas qualquer coisinha que acontecer aqui vai virar um ‘oba-oba’ para a mídia”, diz.



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A farsa e a geopolítica do crime


José Cláudio Souza Alves
via Correio do Brasil RJ


Nós que sabemos que o “inimigo é outro”, na expressão padilhesca, não podemos acreditar na farsa que a mídia e a estrutura de poder dominante no Rio querem nos empurrar.

figura:Correio do Brasil - acessada 28nov2010
O conflito no Rio nas visões
da classe média e da favela

Achar que as várias operações criminosas que vem se abatendo sobre a Região Metropolitana nos últimos dias, fazem parte de uma guerra entre o bem, representado pelas forças publicas de segurança, e o mal, personificado pelos traficantes, é ignorar que nem mesmo a ficção do Tropa de Elite 2 consegue sustentar tal versão.

O processo de reconfiguração da geopolítica do crime no Rio de Janeiro vem ocorrendo nos últimos 5 anos. De um lado Milícias, aliadas a uma das facções criminosas, do outro a facção criminosa que agora reage à perda da hegemonia.

Exemplifico. Em Vigário Geral a polícia sempre atuou matando membros de uma facção criminosa e, assim, favorecendo a invasão da facção rival de Parada de Lucas. Há 4 anos, o mesmo processo se deu. Unificadas, as duas favelas se pacificaram pela ausência de disputas. Posteriormente, o líder da facção hegemônica foi assassinado pela Milícia. Hoje, a Milícia aluga as duas favelas para a facção criminosa hegemônica.

Processos semelhantes a estes foram ocorrendo em várias favelas. Sabemos que as milícias não interromperam o tráfico de drogas, apenas o incluíram na listas dos seus negócios juntamente com gato net, transporte clandestino, distribuição de terras, venda de bujões de gás, venda de voto e venda de “segurança”.

Sabemos igualmente que as UPPs não terminaram com o tráfico e sim com os conflitos. O tráfico passa a ser operado por outros grupos: milicianos, facção hegemônica ou mesmo a facção que agora tenta impedir sua derrocada, dependendo dos acordos.


Estes acordos passam por miríades de variáveis: grupos políticos hegemônica na comunidade, acordos com associações de moradores, voto, montante de dinheiro destinado ao aparado que ocupa militarmente, etc.

Assim, ao invés de imitarmos a população estadunidense que deu apoio às tropas que invadiram o Iraque contra o inimigo Sadan Husein, e depois, viu a farsa da inexistência de nenhum dos motivos que levaram Bush a fazer tal atrocidade, devemos nos perguntar: qual é a verdadeira guerra que está ocorrendo?

Ela é simplesmente uma guerra pela hegemonia no cenário geopolítico do crime na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

As ações ocorrem no eixo ferroviário Central do Brasil e Leopoldina, expressão da compressão de uma das facções criminosas para fora da Zona Sul, que vem sendo saneada, ao menos na imagem, para as Olimpíadas.

Justificar massacres, como o de 2007, nas vésperas dos Jogos Pan Americanos, no complexo do Alemão, no qual ficou comprovada, pelo laudo da equipe da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, a existência de várias execuções sumárias é apenas uma cortina de fumaça que nos faz sustentar uma guerra ao terror em nome de um terror maior ainda, porque oculto e hegemônico.

Ônibus e carros queimados, com pouquíssimas vítimas, são expressões simbólicas do desagrado da facção que perde sua hegemonia buscando um novo acordo, que permita sua sobrevivência, afinal, eles não querem destruir a relação com o mercado que o sustenta.

A farça da operação de guerra e seus inevitáveis mortos, muitos dos quais sem qualquer envolvimento com os blocos que disputam a hegemonia do crime no tabuleiro geopolítico do Grande Rio, serve apenas para nos fazer acreditar que ausência de conflitos é igual à paz e ausência de crime, sem perceber que a hegemonização do crime pela aliança de grupos criminosos, muitos diretamente envolvidos com o aparato policial, como a CPI das Milícias provou, perpetua nossa eterna desgraça: a de acreditar que o mal são os outros.

Deixamos de fazer assim as velhas e relevantes perguntas: qual é a atual política de segurança do Rio de Janeiro que convive com milicianos, facções criminosas hegemônicas e área pacificadas que permanecem operando o crime? Quem são os nomes por trás de toda esta cortina de fumaça, que faturam alto com bilhões gerados pelo tráfico, roubo, outras formas de crime, controles milicianos de áreas, venda de votos e pacificações para as Olimpíadas? Quem está por trás da produção midiática, suportando as tropas da execução sumária de pobres em favelas distantes da Zona Sul? Até quando seremos tratados como estadunidenses suportando a tropa do bem na farsa de uma guerra, na qual já estamos há tanto tempo, que nos faz esquecer que ela tem outra finalidade e não a hegemonia no controle do mercado do crime no Rio de Janeiro?

Mas não se preocupem, quando restar o Iraque arrasado sempre surgirá o mercado financeiro, as empreiteiras e os grupos imobiliários a vender condomínios seguros nos Portos Maravilha da cidade.

Sempre sobrará a massa arrebanhada pela lógica da guerra ao terror, reduzida a baixos níveis de escolaridade e de renda que, somadas à classe média em desespero, elegerão seus algozes e o aplaudirão no desfile de 7 de setembro, quando o caveirão e o Bope passarem.

sábado, 27 de novembro de 2010

Aeroporto de Goiânia 2010

Visão do estacionamento e do acesso ao aeroporto.
O diretor de Engenharia e Meio Ambiente da Infraero, Jaime Parreira, o superintendente da Regional Centro-Oeste, Abibe Ferreira, e o superintendente do Aeroporto Santa Genoveva/Goiânia (GO), Jucélio Oliveira, participaram, em 12 de agosto, de reunião de trabalho na Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg).

Pátio e pistas serão ampliadas vai suportar
2,4 milhões de passageiros por ano
O propósito do encontro foi a discussão da infraestrutura do Aeroporto de Goiânia. Na pauta do encontro estavam o retorno das obras do novo Terminal de Passageiros e a inauguração do Módulo Operacional, que terá função de sala de embarque.

Na reunião, Parreira confirmou o prazo de previsão de reinício das obras em outubro de 2010.

O diretor esclareceu que a obra do terminal será realizada em duas etapas:

  • A primeira, com conclusão prevista para 2012, contemplará além de todo o sistema de pátio e pistas, o Terminal de Passageiros, com capacidade para 2,4 milhões de passageiros por ano, dotado de quatro pontes de embarque e 11 posições para aeronaves comerciais;
  • Já a segunda fase, com conclusão prevista para 2014, ampliará a capacidade de atendimento a passageiros do Terminal para 3,7 milhões/ano. O Terminal passará a contar com oito pontes de embarque e capacidade para atender até 17 aeronaves comerciais simultaneamente. Esta estrutura atenderá à demanda prevista até o ano de 2020.

“A Infraero está empenhada nestes trabalhos. Nós entendemos a importância estratégica e comercial do Aeroporto de Goiânia não só para a capital, mas para todo o Estado”
Jaime Parreira



Andamento das obras

A retomada dos trabalhos será feita após conclusão dos levantamentos quantitativos e qualitativos da obra. Os levantamentos estão atualmente em execução pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), da Universidade de São Paulo (USP). A execução das obras será em parceria com o Departamento de Engenharia e Construção do Exército Brasileiro (DEC) que concluirá o projeto executivo para a infraestrutura do sistema de pistas e pátios, assim como a execução dos trabalhos referentes a estes sistemas. O Exército poderá atuar ainda nos projetos executivos do Terminal de Passageiros.

Será adotada quatro pontes de embarques
Enquanto o novo terminal não é inaugurado, o atual Terminal de Passageiros do Santa Genoveva receberá um Módulo Operacional para embarques com 1.200 m², com todas as condições de conforto e segurança necessárias a um terminal, como isolamento termoacústico, climatização, sistema de som, Sistema Informativo de Voos (SIV) e canais de inspeção.

O Módulo será inaugurado em 20/9, representando um investimento de R$ 3,5 milhões. Haverá também ampliação do atual estacionamento, aumentando sua capacidade em 300 vagas.


Fonte: Infraero

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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Nicolelis lança manifesto da Ciência Tropical

Ao pensar  o futuro da ciência no Brasil, boa parte dos pesquisadores brasileiros volta os olhos, automaticamente, sem pestanejar,  para Estados Unidos, Europa e Ásia. Miguel Nicolelis, um dos mais respeitados neurocientistas do mundo, não.

Foto: Viomundo, acessado 23nov2010
Miguel Nicolelis
palestrando para alunos da UNB
Formado em Medicina pela USP, ele está há 20 anos nos Estados Unidos, onde é professor e pesquisador na Universidade Duke. Já ganhou 38 prêmios internacionais por suas pesquisas. Dois deles, em 2010, dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos.

Desde 2003 vive na “ponte aérea” Durham, Carolina do Norte (campus da Duke University) – Macaíba, Rio Grande do Norte, onde implantou o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lilly Safra.

Em 11 de outubro, em entrevista a Luiz Carlos Azenha, Nicolelis afirmou ser desejável o desenvolvimento de uma “ciência tropical”. De lá para cá amadureu a ideia. Colocou “no papel” o que tem pensado sobre o tema nesses anos.

O resultado é o manifesto em defesa de um novo paradigma científico, que o Viomundo publica em primeira mão (abaixo da entrevista). Chama-se Manifesto da Ciência Tropical: Uso democrático da ciência para transformação social e econômica do Brasil.

“Optei por chamar o novo modelo de Ciência Tropical não por razões geográficas ou provincianas, mas porque é necessário caracterizarmos desde já o famoso onde, como e porque que permitiram a sua gestão. Afinal, esse novo modelo só teve condições de dar os primeiros passos e realizar as primeiras experiências nesses trópicos, que hoje oferecem à humanidade a mais fascinante esperança de preservar a própria espécie e o planeta.”

“É essa Ciência Tropical que vai possibilitar à humanidade manter e ampliar suas fontes de energia limpa, produzir alimentos e água potável necessários para bilhões de seres humanos. Também cultivar biomas naturais, de onde extrairemos novos medicamentos e curas para inúmeras doenças, preservar os serviços climáticos e ecológicos que manterão em cheque o aquecimento global e identificar novos agentes infecciosos capazes de destruir, numa única epidemia, toda a raça humana.”
Miguel Nicolelis

De saída, esse novo modelo implica libertar a ciência brasileira da subserviência acrítica aos modelos importados e massificar a educação científica, observa Nicolelis nesta parte da entrevista que me concedeu. Ouçam.

É indispensável também investir pesado em ciência e tecnologia. “O investimento maciço em novas formas de explorar petróleo em alta profundidade foi que capacitou a Petrobras a ser o que ela é hoje”, exemplifica Nicolelis. “E isso é apenas a ponta do iceberg. A Ciência Tropical vai ditar a agenda mundial neste século XXI.”


“Ninguém constrói uma nação com 10 mil pessoas de um bairro da cidade de São Paulo. Você precisa de todo o país”, assegura Nicolelis. “É esse casamento da saúde pública, particularmente a da mulher e a da primeira infância, com o projeto educacional brasileiro, público, que precisa ser feito”.

Para implementar essa revolução educacional, Nicolelis defende que:

o ideal seria unir a filosofia do educador Paulo Freire (1921-1997) com a de Alberto Santos-Dumont (1873-1932), inventor do voo controlado.

Também que, do ponto de vista científico, os nossos parceiros estratégicos não são mais os Estados Unidos, Europa ou Ásia, mas a África e a América Latina. “Pode parecer paradoxal, mas é a pura verdade”, sustenta na última parte da nossa entrevista.

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Manifesto da Ciência Tropical: um novo paradigma para o uso democrático da ciência como agente efetivo de transformação social e econômica no Brasil

por Miguel Nicolelis

É hora de a ciência brasileira assumir definitivamente um compromisso mais central perante toda a sociedade e oferecer o seu poder criativo e capacidade de inovação para erradicar a miséria, revolucionar a educação e construir uma sociedade justa e verdadeiramente inclusiva.

É hora de agarrar com todas as forças a oportunidade de contribuir para a construção da nação que sonhamos um dia ter, mas que por muitas décadas pareceu escapar pelos vãos dos nossos dedos.

É hora de aproveitar este momento histórico e transformar o Brasil, por meio da prática cotidiana do sonho, da democracia e da criação científica, num exemplo de nação e sociedade, capaz de prover a felicidade de todos os seus cidadãos e contribuir para o futuro da humanidade.

No intuito de contribuir para o início desse processo de libertação da energia potencial de criação e inovação acumulada há séculos no capital humano do genoma brasileiro, eu gostaria de propor 15 metas centrais para a capacitação do Programa Brasileiro de Ciência Tropical.

A implementação delas nos permitirá acelerar exponencialmente o processo de inclusão social e crescimento econômico, que culminará, na próxima década, com o banimento da miséria, a maior revolução educacional e ambiental da nossa história e a decolagem irrevogável e irrestrita da indústria brasileira do conhecimento.

Estas 15 metas visam a desencadear a massificação e a democratização dos meios e mecanismos de geração, disseminação, consumo e comercialização de conhecimento de ponta por todo o Brasil.

1) Massificação da educação científica infanto-juvenil por todo o território nacional

O objetivo é proporcionar a 1 milhão de crianças, nos próximos 4 anos,  acesso a um programa de educação científica pública, protagonista e cidadã de alto nível. Esse programa utilizará o método científico como ferramenta pedagógica essencial, combinando a filosofia de vida de dois grandes brasileiros: Paulo Freire e Alberto Santos-Dumont.

Ao unir a educação como forma de alcançar a cidadania plena com a visão de que ciência se aprende e se faz “pondo a mão na massa”, sugiro a criação do Programa Educação para Toda a Vida, do qual faria parte o Programa Nacional de Educação Científica Alberto Santos -Dumont (veja abaixo). A porta de entrada se daria nos serviços de pré-natal para as mães dos futuros alunos do programa. Após o nascimento, essas crianças seriam atendidas no berçário e na creche, depois na escola de educação científica que os serviria dos 4-17 anos, para que esses brasileiros e brasileiras possam desenvolver toda a sua potencialidade intelectual e criativa nas duas próximas décadas de suas vidas.

O programa de educação científica seria implementado no turno oposto ao da escola pública regular, criando um regime de educação em tempo integral para crianças de 4-17 anos, por meio de parceria do governo federal com governos estaduais e municipais. Cada unidade da rede de universidades federais poderia ser responsável pela gestão de um núcleo do Programa Educação para Toda Vida, voltado para a população do entorno de cada campus.

O governo federal poderia ainda incentivar a participação da iniciativa privada, oferecendo estímulos fiscais e tributários para as empresas que estabelecessem unidades de educação científica infanto-juvenil, ao longo do território nacional. Por exemplo, o novo centro de pesquisas da Petrobras poderia criar uma das maiores unidades do Educação para Toda Vida.

2) Criação de centros nacionais de formação de professores de Ciência

A implementação do Programa Educação para Toda Vida geraria uma demanda inédita para professores especializados no ensino de ciência e tecnologia. Para supri-la, o governo federal poderia estabelecer o Programa Nacional de Educação Científica Alberto Santos -Dumont, que seria o responsável pela gestão dos centros nacionais de formação de professores de ciências, espalhados por todo território nacional. As universidades federais, os Institutos Federais de Tecnologia (antigos CEFETs) e uma futura cadeia de Institutos Brasileiros de Tecnologia (veja abaixo) poderiam estabelecer programas de formação de professores de ciências e tecnologia em todo o país.

Esses novos programas capacitariam uma nova geração de professores a ensinar conceitos fundamentais da ciência, através de aulas práticas em laboratórios especializados, tecnologia da informação e utilização de métodos, processos e novas ferramentas para investigação científica. Os alunos que se graduassem no programa Educação para Toda Vida teriam capacitação, antes mesmo do ingresso na universidade, para se integrar ao trabalho de laboratórios de pesquisa profissionais, tanto públicos como privados, através do Programa Nacional de Iniciação Científica e do Bolsa Ciência (veja abaixo).

3) Criação da carreira de pesquisador científico em tempo integral nas universidades federais

Seria em paralelo à tradicional carreira de docente. Ela nos permitiria recrutar uma nova geração de cientistas que se dedicaria exclusivamente à pesquisa científica, com carga horária de aulas correspondente a 10% do seu esforço total. Sem essa mudança não há como esperar que pesquisadores das universidades federais possam dar o salto científico qualitativo necessário para o desenvolvimento da ciência de ponta do país.

4) Criação de 16 Institutos Brasileiros de Tecnologia espalhados pelo país

Eles serviriam para suprir a demanda de engenheiros, tecnólogos e cientistas de alto nível e promover a inclusão social por meio do desenvolvimento da indústria brasileira do conhecimento. Atualmente o Brasil apresenta um déficit imenso desses profissionais.

Para sanar essa situação, o Brasil poderia reproduzir o modelo criado pela Índia, que, desde a década de 1950, construiu uma das melhores redes de formação de engenheiros e cientistas do mundo, constituída pela cadeia de Institutos Indianos de Tecnologia.

Para tanto, o governo federal deveria criar nos próximos oito anos uma rede de 16 Institutos Brasileiros de Tecnologia (IBT) e espalhá-los em bolsões de miséria do território nacional, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Cada IBT poderia admitir até 5.000 alunos por ano.

5) Criação de 16 Cidades da Ciência

Localizadas nas regiões com baixo índice de desenvolvimento humano, como o Vale do Ribeira, Jequitinhonha, interior do Nordeste, Amazônia, as Cidades da Ciência ficariam no entorno dos novos IBTs.

As Cidades da Ciência seriam, na prática, o componente final da nova cadeia de produção do conhecimento de ponta no Brasil. Acopladas aos novos IBTs e à rede de universidades federais, criariam o ambiente necessário para a transformação do conhecimento de ponta, gerado por cientistas brasileiros, em tecnologias e produtos de alto valor agregado que dariam sustentação à indústria brasileira do conhecimento.

Nas Cidades da Ciência seriam criadas e estabelecidas as grandes empresas do conhecimento nacional, onde o potencial científico do povo brasileiro poderia se transformar em novas fontes de riqueza a serem aplicadas na gênese de um sistema nacional autossustentável. Tal iniciativa permitiria a inserção do Brasil na era da economia do conhecimento que dominará o século XXI.

6) Criação de um arco contínuo de Unidades de Conservação e Pesquisa da Biosfera da Amazônia

Esse verdadeiro cinturão de defesa, formado por um arco contínuo de Unidades de Conservação e Pesquisa da Biosfera da Amazônia, seria disposto em paralelo ao chamado “Arco de Fogo”, formado em decorrência do agronegócio predatório e da indústria madeireira ilegal, responsáveis pelo desmatamento da região. Essa iniciativa visa a fincar uma linha de defesa permanente contra o avanço do desmatamento ilegal, modificando a estratégia das unidades de conservação a fim de colocá-las a serviço de um Programa Nacional de Mapeamento dos Biomas Brasileiros.

Uma série de unidades de conservação poderia ser transformada em unidades híbridas. Assim, além da conservação, poderiam incluir grandes projetos de pesquisa que possibilitem ao Brasil mapear a riqueza e a magnitude dos serviços ecológicos e climáticos encontrados nos diversos biomas nacionais.

Para incentivar a participação de populações autóctones nesse esforço, o governo federal poderia criar o programa Bolsa Ciência Cidadã. Homens, mulheres e adolescentes, que vivem na floresta amazônica e conhecem seus segredos melhor do que qualquer professor doutor, receberiam uma bolsa, similar ao bolsa família, para integrarem as equipes de pesquisadores e responsáveis pela implementação das leis ambientais na região. Esse exército de cidadãos, devotado à investigação científica e à proteção da Amazônia, mostraria ao mundo o quão determinado o Brasil está em preservar uma das maiores maravilhas biológicas do planeta.

Evidentemente tal iniciativa poderia ser replicada em outras áreas críticas, também ameaçadas pela indústria predatória, como o Pantanal, a caatinga, o cerrado, a Mata Atlântica e os Pampas.

7) Criação de oito “Cidades Marítimas” ao longo da costa brasileira

A descoberta do pré-sal demonstra claramente que uma das maiores fontes potenciais de riqueza futura da sociedade brasileira reside no vasto e diverso bioma marítimo da nossa costa.

Apesar disso, os esforços nacionais para estudo científico desse vasto ambiente são muito incipientes. Aqui também o Brasil pode inovar de forma revolucionária. Em parceria com a Petrobras, o governo federal poderia estabelecer, no limite das 350 milhas marinhas, oito plataformas voltadas para a pesquisa oceanográfica e climática, visando ao mapeamento das riquezas no mar tropical brasileiro.

Essas verdadeiras “Cidades Marítimas”, dispostas a cada mil quilômetros da costa brasileira, seriam interligadas por serviço de transporte marítimo e aéreo (helicópteros) e se valeriam de incentivos à renascente indústria naval brasileira, para o desenvolvimento, por exemplo, de veículos de exploração a grandes profundidades.

Cada “Cidade Marítima” seria autossuficiente, contando com laboratórios, equipamentos e equipe própria de pesquisadores. Tais edificações serviriam também como postos mais avançados de observação dos limites marítimos do Brasil. Com o crescente desenvolvimento da exploração do pré-sal, essa rede de “Cidades Marítimas” poderia assumir papel fundamental na defesa da nossa soberania marítima dentro das águas territoriais.

8) Retomada e Expansão do Programa Espacial Brasileiro

Embora subestimado pela sociedade e a mídia brasileiras, o fortalecimento do programa espacial brasileiro oferece outro exemplo emblemático de como o futuro do desenvolvimento científico no Brasil é questão de soberania nacional.

Dos países pertencentes ao BRIC, o Brasil é o que possui o mais tímido e subdesenvolvido programa espacial. Apesar da sua situação geográfica altamente favorável, a Base de Alcântara não tem correspondido às altas expectativas geradas com a sua construção.

Essa situação é inaceitável, uma vez que, a longo prazo, pode levar o Brasil a uma dependência irreversível no que tange a novas tecnologias e novas formas de comunicação, colocando a nossa soberania em risco. Dessa forma, urge reativar os investimentos nessa área vital, definir novas e ambiciosas metas para o programa espacial brasileiro e esclarecer o papel da sociedade civil na operação dos programas da Base de Alcântara, cujo controle deveria estar nas mãos de uma equipe civil de pesquisadores e não das forças armadas.

9) Criação de um Programa Nacional de Iniciação Científica

Com a criação do Programa Educação para Toda Vida, seria necessário implementar novas ferramentas para que os adolescentes egressos desses programas pudessem dar vazão a seus anseios de criação, invenção e inovação através da continuidade do processo de educação científica, mesmo antes do ingresso na universidade e depois dele.

Na realidade, é extremamente factível que grande número desses jovens possa começar a contribuir efetivamente para o processo de geração de conhecimento de ponta antes do ingresso na universidade.

O governo federal poderia criar um Programa Nacional de Iniciação Científica que leve ao estabelecimento de 1 milhão de Bolsas Ciência. Uma experiência preliminar desse programa já existe no CNPQ, através do recém-criado programa dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia. Bastaria ampliá-lo e remover certas amarras burocráticas que dificultam a sua implementação neste momento. Esse programa poderia também ser usado pelo governo federal para eliminar uma porcentagem significativa (30%) da evasão do ensino médio, decorrente da necessidade dos alunos em contribuir para a renda familiar.

Jovens de talento científico reconhecido deveriam também ter a opção de seguir carreira de inventor ou pesquisador sem necessitar de doutorado ou outro curso de pós-graduação. Tal alternativa contribuiria decisivamente para a diminuição do período de treinamento necessário para que talentos científicos pudessem participar efetivamente do desenvolvimento científico do Brasil.

10) Investimento de 4-5% do PIB em ações de ciência e tecnologia na próxima década

Tendo proposto novas ações, é fundamental que essas sejam devidamente financiadas. Para tanto e, ainda, para assegurar a ascensão da ciência brasileira aos patamares de excelência dos países líderes mundiais, o governo brasileiro teria de tomar a decisão estratégica de destinar, nas próximas décadas, algo em torno de 4-5% do PIB nacional à ciência e tecnologia.

Em vários países, como os EUA, essa conta é dividida em partes iguais entre o poder público e privado. No Brasil, todavia, não existem condições para que isso ocorra de imediato. Dessa forma, não restaria outra alternativa ao governo federal senão assumir a responsabilidade desse investimento estratégico, usando novas fontes de receita, como a gerada pela exploração do pré-sal.

11) Reorganização das agências federais de fomento à pesquisa

Reformulação de normas de procedimento e processo para agilizar a distribuição eficiente de recursos ao pesquisador e empreendedor científico, bem como criar um novo modelo de gestão e prestação de contas.

A ciência e o cientista brasileiro não podem mais ser regidos pelas mesmas normas de 30-40 anos atrás, utilizadas na prestação de contas de recursos públicos para construção de rodovias e hidrelétricas.

Urge, portanto, reformular completamente todos os protocolos de cooperação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) com outros ministérios estratégicos para execução de projetos multiministeriais.

Na lista de cooperação estratégica do MCT, incluem-se os ministérios da Educação, Saúde, Meio Ambiente, Minas e Energia, Indústria e Comércio, Agricultura, Defesa e Relações Exteriores. Normas comuns de operação dos departamentos jurídicos e dos processos de prestação de contas devem ser produzidas entre o MCT e esses ministérios, de sorte a incentivar a realização de projetos estratégicos interministerais, como o Educação para Toda Vida.

O cenário atual cria inúmeros empecilhos para ratificação de projetos estratégicos aprovados no mérito científico (o principal quesito), mas que, via de regra, passam meses e até anos prisioneiros dos desconhecidos meandros e procedimentos conflitantes com que operam os diferentes departamentos jurídicos dos diferentes ministérios.

Urge eliminar tal barreira kafkaniana e transferir o poder de decisão, atualmente nas catacumbas jurídicas dos ministérios onde volta e meia processos desaparecem, para as mãos dos gestores de ciência treinados para implementar uma visão estratégica do projeto nacional de ciência e tecnologia.

12) Criação de joint ventures para produção de insumos e materiais de consumo para prática científica dentro do Brasil

É’ fundamental investir numa redução verdadeira dos trâmites burocráticos “medievais” que ainda existem para aquisição de materiais de consumo e equipamentos de pesquisa importados. Para tanto, é importante definir políticas de incentivo ao estabelecimento de empresas nacionais dispostas a suprir o mercado nacional com insumos e equipamentos científicos.

13) Criação do Banco do Cérebro

Um dos maiores gargalos para o crescimento da área de ciência e tecnologia no Brasil é a dificuldade que cientistas e empreendedores científicos enfrentam para ter acesso ao capital necessário para desenvolver novas empresas baseadas na sua propriedade intelectual.

Na maioria das vezes, esses inventores e microempreendedores científicos ficam à mercê da ação de venture capitalists, que oferecem capital em troca de boa parte do controle acionário da empresa em que desejam investir.

Para reverter esse cenário, o governo federal poderia criar o Banco do Cérebro, uma instituição financeira destinada a implementar vários mecanismos financeiros para fomento do empreendedorismo científico nacional.

Essas ferramentas financeiras incluiriam desde programa de microcrédito científico até formas de financiamento de novas empresas nacionais voltadas para produtos de alto valor agregado, fundamentais ao desenvolvimento da ciência brasileira e da economia do conhecimento.

Para isso, o governo federal deverá exigir que esses novos empreendimentos científicos sejam localizados numa das novas Cidades da Ciência. Joint ventures entre empreendedores brasileiros e estrangeiros também deverão ser estimuladas pelo Banco do Cérebro, seguindo o mesmo critério social.

14) Ampliação e incentivo a bolsas de doutorado e pós-doutorado dentro e fora do Brasil

À primeira vista pode parecer contraditório propor metas para o desenvolvimento da Ciência Tropical e, ao mesmo tempo, reivindicar aumento significativo de bolsas de doutorado e pós-doutorado para alunos brasileiros no exterior.

Novamente, a proposta da Ciência Tropical é, antes de tudo, um nova proposta para o desenvolvimento de excelência na prática da pesquisa e educação científica. Dessa forma, ela tem de incentivar todas as formas que permitam aos melhores e mais promissores cientistas brasileiros complementarem sua formação fora do território nacional.

Como bem disse a presidente-eleita Dilma Rousseff durante a campanha: “ O Brasil precisa de seus cientistas porque eles iluminam o nosso país”.

Pois que os futuros jovens cientistas brasileiros tenham a oportunidade de se transformar em genuínos embaixadores da ciência brasileira e complementar seus estudos em universidades e institutos de pesquisa estrangeiros, líderes em suas respectivas áreas.

Esse processo de intercâmbio e “oxigenação” de idéias é essencial à prática da ciência de alto nível. Mesmo os cientistas brasileiros que optarem por ficar no exterior depois desse e treinamento poderão trazer dividendos fundamentais para o desenvolvimento da Ciência Tropical.

15) Recrutamento de pesquisadores e professores estrangeiros dispostos a se radicar no Brasil

Com a crise financeira, verdadeiros exércitos de cientistas americanos e europeus estarão procurando novas posições nos próximos anos. Cabe ao Brasil tirar vantagem dessa situação e passar a ser um importador de cérebros e não um exportador de talentos.

Historicamente, a academia brasileira tem inúmeros exemplos excepcionais de pesquisadores estrangeiros de alto nível que alavancaram grandes avanços científicos no Brasil. O Programa Brasileiro de Ciência Tropical só teria a ganhar com uma política mais abrangente, audaciosa e sistêmica de importação de talentos.

Fonte: Blog Vi o Mundo - Luiz Carlos Azenha




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