Para fazer justiça, cito um dos tucanos que ainda merecem respeito pelo seu espírito Republicano. Falo de Bresser Pereira que em mais outro acertado artigo completa e mata de vez a questão destas eleições que, repito mais uma vez, foi a meu ver a mais suja e rasteira de todas feitas até hoje no Brasil.
Dois males afinal evitados
Eleição rejeitou udenismo moralista e potencialmente golpista e americanização das discussões políticas
Luiz Carlos Bresser Pereira
Folha de São Paulo, via blog
Leituras Favre
As eleições do último domingo foram livres e democráticas. Foram próprias de uma democracia consolidada, porque o Brasil conta com uma grande classe média de empresários e de profissionais e com uma classe trabalhadora que participa dos ganhos de produtividade.
Porque conta com um sistema constitucional-legal dotado de legitimidade e garantido por um Estado moderno, que é efetivo em garantir a lei e crescentemente eficiente em gerir os serviços sociais e científicos que permitem reduzir a sua desigualdade.
É verdade que os dois principais candidatos não conseguiram desenvolver um debate que oferecesse alternativas programáticas e ideológicas claras aos eleitores. Por isso, a grande maioria dos analistas os criticou. Creio que se equivocaram.
O debate não ocorreu porque a sociedade brasileira é hoje uma sociedade antes coesa do que dividida. Sem dúvida, a fratura entre os ricos e os pobres continua forte, como as pesquisas eleitorais demonstraram. Mas hoje a sociedade brasileira é suficientemente coesa para não permitir que candidatos com programas muito diferentes tenham possibilidades iguais de serem eleitos -o que é uma coisa boa.
Os dois males que de fato rondaram as eleições de 31 de outubro foram:
- os males do udenismo moralista e potencialmente golpista
- o da americanização do debate político.
Quando setores da sociedade e militantes partidários [ele não cita que são do partido dele, mas entenda PSDB] afirmaram que a candidata eleita representava uma ameaça para a democracia, para a Constituição e para a moralidade pública, estavam retomando uma prática política que caracterizou a UDN (União Democrática Nacional), o partido político moralista e golpista que derrubou Getulio Vargas em 1954.
Não há nada mais antipolítico ou antidemocrático do que esse tipo de argumento e de prática. As três acusações são gravíssimas; se fossem verdadeiras - e seus proponentes sempre acham que são - justificam o golpe de Estado preventivo. Felizmente a sociedade brasileira teve maturidade e rejeitou esse tipo de argumento.
Quanto ao mal da americanização da política, entendo por isso a mistura de religião com política em um país moderno.
Os Estados Unidos, que no final da Segunda Guerra Mundial eram o exemplo de democracia para todo mundo, experimentaram desde então decadência política e social que teve como uma de suas características a invasão da política por temas de base religiosa como a condenação do aborto.
[sobre a potência decadente, Bresser escreveu outro excelente texto que merece ser lido e que está no final deste post sob o título "Irão e o Império decadente"]
De repente um candidato passa a ser amigo de Deus ou do diabo, dependendo de ser ele “a favor da vida” ou não. A separação entre a política e a religião - a secularização da política - foi um grande avanço democrático do século 19. Voltarmos a uni-las, um grande atraso, a volta à intolerância.
A sociedade brasileira resistiu bem às duas ameaças. E a democracia saiu incólume e reforçada das eleições.
Em seu discurso após a eleição, Dilma Rousseff reafirmou seu compromisso com os pobres, ao mesmo tempo em que se dispôs a realizar uma política de conciliação, não fazendo distinção entre vitoriosos e vencidos.
Estou seguro que será fiel a esse compromisso, como o foram os últimos presidentes. Nossa democracia o exige e permite
Fonte: Blog Leituras Favre
Outros textos de Bresser Pereira que valem a pena ler:
- A moral e a crise em 2009
- O Irã e o império decadente
- MST x Culatre - Bresse Pereira
- Só um bobo dá a estrangeiros serviços públicos como as telefonias fixas e móvel.
Aproveite e leia a Nota de repúdio 1, clicando aqui
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