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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Fernado Haddad: Alguns dos motivos das perseguições contra o atual Ministro da Educação - MEC

do blog Conversa Afiada,
Paulo Henrique Amorim

Sobre o Haddad tenho algumas informações:

Haddad de 2007 a 2010, em todo o país, já fechou 20 mil vagas em cursos de Direito com avaliação ruim. Barões da educação perderam milhões. Haddad na educação superior à distância, de 2008 a 2010, fechou 3.800 pólos de apoio presenciais inadequados e suspendeu 20 mil vagas. A educação superior à distância é a mina de ouro para os barões por causa escala: baixo custo e possibilidade de aumentar nº de alunos sem precisar de grande infra-estrutura.

Os barões não se conformam com regulação na educação à distância. Eles pensavam que o Haddad não mexeria nisso.

Na gestão Haddad implantou-se o mais profícuo projeto de EAD público da história, a Universidade Aberta do Brasil (UAB)

Meta de Haddad é 50% com ensino superior nos próximos anos. Educação reduz a manipulação pela velha imprensa.
Haddad revogou a DRU (Desvinculação das Receitas da União), criada por FHC e Paulo Renato, que surrupiou, desde 95, 10 bilhões da educação por ano.

Haddad criou o FUNDEB. Fundo que financia não só a educação fundamental como no tempo do Paulo Renato, mas também à educação infantil e educação média.
Todos os relatórios de organizações internacionais mostram que o Brasil avançou muito nesta década em educação. Isso incomoda.
Nunca houve tantos concursos para professores das universidades federais, graças à expansão do REUNI.

Haddad criou o SINAES (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior) que permite a regulação do setor. O SINAES permite fechar cursos. Sistema privado odeia o SINAES.

Haddad fechou cursos à distância da Unicid por falta de qualidade. Deputados não gostaram. Unicid contribui PARA campanhas.

Haddad foi o mentor do PROUNI. Foi idéia dele com a esposa quando ele ainda era Secretário Executivo (Vice) do Tarso Genro.
  • Em 2002, as receitas brutas da maior empresa de bebidas do Brasil (AMBEV), e da 2º mineradora do mundo (VALE), estavam pouco abaixo das receitas obtidas no setor de educação privada.
  • Em 2002, as quatro maiores empresas de transporte aéreo juntas, na época, (VARIG, TAM, GOL, VASP), tiveram receita bruta inferior à receita do setor privado de educação superior.
Sessenta países membros da OCDE submetem os estudantes ao ENEM – lá conhecido como teste PISA.

Aproveite e assista a entrevista recente do Ministro Fernando Haddad.

http://www.youtube.com/watch?v=j-GCF2rvxFQ 


Na gestão Haddad, o FIES passou a dispensar fiador. E, se o aluno cursar Medicina ou se tornar professor de escola pública não paga o financiamento – o Estado paga tudo -http://migre.me/26s39

Para o ano que vem, o Haddad estabeleceu que o ENEM também será critério para receber financiamento do FIES- http://migre.me/24vxA

Institutos federais também usam o ENEM. Previsão de 83 mil vagas públicas para este ano.
Com avaliação mais rigorosa, Haddad fechou milhares de vagas de faculdades particulares. Faculdades particulares odeiam o Haddad.
Haddad fez o IDEB que deu transparência à avaliação da educação básica. Cada município tem IDEB. Tem prefeito que odeia Haddad por conta dessa transparência.

Haddad fechou cursos à distância da universidade Castello Branco por falta de qualidade.
Um dos mais recentes embates de Haddad, contra a mercantilização da educação, foi com o todo poderoso Di Genio, do Grupo Objetivo.
Haddad criou a universidade aberta do Brasil com mais de 200 mil alunos estudando graduação à distância de graça.

Haddad foi quem começou a distribuição de livros didáticos para o ensino médio em 2005. Antes era só para o ensino fundamental.

Haddad criou 214 escolas técnicas e as transformou em institutos federais com cursos de graduação e pós-graduação. Especialmente licenciaturas para formar professores.

Haddad aumentou o orçamento do MEC de 19 bilhões para 70 bilhões em 2011.

Haddad estendeu o ensino obrigatório para nove anos e agora é obrigatório dos quatro aos dezessete anos. Emenda Constitucional.

Haddad criou o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) com compromisso de metas de qualidade até 2022, firmado por todos os prefeitos e governadores do Brasil. Acordo histórico.

Haddad melhorou o IDEB do Brasil de 3.8 para 4.6 em quatro anos. Objetivo é chegar a seis em 2022 (média dos países da OCDE: mais ricos).

Haddad mais que dobrou o nº de vagas de ingresso nas universidades federais. De 113 mil para 270 mil.

Em 2009, número de novos alunos aumentou 17% em relação a 2008. E os formandos até 2008 são reflexos dos ingressos nas Federais até 2002.

Só recordando, a era FHC:
  • A aprovação automática do Paulo Renato inflou índices na Educação Básica, esvaziou salas e dispensou novos investimentos. 
  • Na era FHC, Paulo Renato causou atraso de uma década na educação, diz deputado -http://migre.me/25NeO
  • Paulo Renato distorceu a Lei Darcy Ribeiro. Confundiu “progressão continuada” com “formação de analfabetos”
  • Em 1995, FHC assume e cria a “aprovação automática”. Menos repetentes, mais vagas sem gastar nada.

Fonte: Conversa Afiada - Paulo Henrique Amorim


Aproveite e leia:


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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O Apoio dos Professores ao Ministro Fernando Haddad - MEC

Abaixo-assinado de professores em apoio ao ministro Fernando Haddad
Nota de apoio ao Ministro da Educação Fernando Haddad

Há, com certeza, muito a ser feito para superar os efeitos de uma desatenção histórica, por parte das elites brasileiras, ao campo da educação no país. Não obstante, entre os esforços sérios e consistentes para alterar tal quadro, com justiça, deve figurar o papel desempenhado nos últimos anos pelo ministro Fernando Haddad. Sob sua gestão, o Ministério da Educação desenvolveu importantes iniciativas para a qualificação dos professores da rede de ensino fundamental, através do envolvimento da Capes, e reverteu o processo de redução do papel da universidade pública e federal no conjunto do ensino superior brasileiro.

Um passo significativo, no sentido da modernização e da democratização, foi materializado por meio da implantação de um sistema de avaliação de estudantes egressos do ensino médio. Tal sistema, organizado em escala nacional, mais do que avaliar a qualidade da formação dos estudantes, consolidou-se como modalidade de acesso à universidade pública. O experimento, pela sua magnitude e complexidade, deve retirar de suas eventuais falhas motivos para aperfeiçoamento. Essa é a direção responsável para a aplicação de políticas públicas com largo impacto social.

O sistema materializado no ENEM constitui um avanço na avaliação dos estudantes e na forma de seu acesso á universidade. Constitui-se, assim, como um patrimônio a ser preservado e aperfeiçoado. Deve ser, portanto, defendido da crítica oportunista e destrutiva dos que gostariam que a universidade pública no país seguisse o destino que a ela foi imposto no passado.

Os signatários do presente texto afirmam sua confiança na capacidade de gestão do ministro Fernando Haddad e, dessa forma, vêm de público a ele prestar a sua solidariedade.



Fonte: Blog Viomundo - Luiz Carlos Azenha



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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Escola do MST recebe melhor nota do Enem


(...)
Com sua cobertura enviesada e manipuladora, a mídia omite fatos curiosos do Enem. Um deles, que ela nunca divulgaria, é que a Escola Semente da Conquista, localizada no assentamento 25 de Maio, em Santa Catarina, foi o destaque do Exame Nacional em 2009, conforme noticiado na página oficial do Enem. Ela ocupou a primeira posição no município, com nota de 505,69.


Semente da Conquista

Nesta escola estudam 112 filhos de assentados, de 14 a 21 anos. Ela é dirigida por militantes do MST e os professores foram indicados pelos próprios assentados do município de Abelardo Luz, cidade com o maior número de famílias assentadas no estado. São 1.418 famílias, morando em 23 assentamentos. A primeira colocação no Enem foi comemorada pelas famílias de sem-terra.

A mídia, porém, nada falou sobre esta vitória. Segundo o sítio do MST, "essa conquista, histórica para uma instituição de ensino do campo, ficou fora da atenção da mídia, como também é pouco reconhecida pelas autoridades políticas de nosso estado. A engrenagem ideológica sustentada pela mídia e pelas elites rejeita todas as formas de protagonismo popular, especialmente quando esses sujeitos demonstram, na prática, que é possível outro modelo de educação".

"A Escola Semente da Conquista é sinal de luta contra o sistema que nada faz contra os índices de analfabetismo e êxodo rural. Vale destacar que vivemos numa sociedade em que as melhores bibliotecas, cinemas, teatros são para uma pequena elite... Mesmo com todas as dificuldades, a escola foi destaque entre as escolas do município. Este fato não é apenas mérito dos educandos, mas sim da proposta pedagógica do MST, que tem na sua essência a formação de novos homens e mulheres, sujeitos do seu processo histórico em construção e em constante aprendizado". 



sábado, 13 de novembro de 2010

ENEM 2010 - Mais outra, e última, sobre o jogo sujo contra o ENEM

Repito aqui o que escrevi no outro post sobre o ENEM. Participei de vários vestibulares, seja como vestibulando ou como fiscal, e em todas houveram problemas, mas nenhuma delas foi cancelada. No máximo houveram cancelamentos de questões que apresentaram problemas, seja por erro de grafia ou de gramática, por ter mais de uma resposta dentre outros problemas. Houveram também prisão de pessoas que tentaram fraudar, ou que estavam fraudando o certame.

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12 de novembro de 2010 às 10:11
via blog Viomundo,

Rudá Ricci: Enem sofre ofensiva de interesses ligados à indústria do vestibular

Na avaliação do sociólogo e consultor na área de educação, Rudá Ricci, há uma disputa de política educacional em curso, e é necessário preservar uma avaliação de caráter nacional. “Uma prova nacional permite que o país trace objetivos de política educacional”, defende. Entre os setores interessados economicamente, segundo ele, estão as próprias universidades, que arrecadam em matrículas, os professores que produzem questões fechadas e abertas, e os cursos preparatórios para o vestibular.

por Anselmo Massad,

São Paulo – O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sofre uma ofensiva de interesses, segundo o sociólogo e consultor na área de educação Rudá Ricci. Ele enumera grupos e setores do que chama de “indústria do vestibular”, de cursos preparatórios a docentes encarregados de formular as provas. Para ele, há uma disputa de política educacional em curso, e é necessário preservar uma avaliação de caráter nacional.

“Uma prova nacional permite que o país trace objetivos de política educacional”, esclarece. Um vestibular nacional do ponto de vista da aplicação e do conteúdo promove um impacto no ensino médio, de modo a reverter problemas dessa faixa da educação.

Para ele, os vestibulares descentralizados, feitos por cada universidade, provocam danos à educação, já que o ensino médio e mesmo o fundamental direcionam-se às provas, e não à formação em sentido mais amplo. “O ensino médio é o maior problema da educação no Brasil, é o primeiro da lista, com mais evasão, em uma profunda falência”, sustenta.

“O Enem faz questões interdisciplinares, é absolutamente técnico, é super sofisticado”, elogia. Os méritos estariam em privilegiar o raciocínio à memorização de conteúdos. Isso permitiria que o ensino aplicado nas escolas fosse além do preparo para enfrentar provas de uma ou outra universidade.

O Enem traz uma “profunda revolução”, na visão de Rudá, “ao combater profundamente a concepção pedagógica e política de vestibulares por universidade”. Ao se aproximar dessa concepção nacional – fato que aconteceu apenas nos últimos anos –, interesses de grupos educacionais foram colocados em xeque, o que desperta ações contrárias.

Entre os setores interessados economicamente, segundo ele, estão as próprias universidades, que arrecadam em matrículas, os professores que produzem questões fechadas e abertas, e os cursos preparatórios para o vestibular.


Controle social

Ricci critica a postura do ex-ministro da Educação, Paulo Renato, e da ex-secretária de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro. O sociólogo taxa os comentários feitos pelos especialistas ligados ao PSDB como “oportunismo”. Isso porque, segundo ele, o uso da prova como seleção e seu caráter nacional, hoje criticados pelos tucanos, foram objetivos perseguidos durante a gestão de Renato na pasta, de 1995 a 2002.

O que ele considera como mudança de postura é resultado da disputa política, que faz com que os estudantes passem a rejeitar o exame. “Os jovens não querem mais essa bagunça. E têm razão”, pontua.

“Existe uma movimentação para politizar esse tema; vamos ter o avanço de uma oposição organizada, que junta as forças políticas que perderam a eleição nacional com escolas particulares, cursinhos que têm muito interesse na manutenção do sistema de vestibular”, avalia.

O sociólogo defende o modelo de exame nacional, mas acredita que a fórmula possa ser aprimorada, seja com mais dias de provas, seja com provas aplicadas a cada ano do ensino médio. Ele aponta ainda que houve um desvirtuamento da proposta interdisciplinar e sofisticada, empregada originalmente, em função da necessidade de expandir a prova. Em 2010, foram 4,6 milhões de inscritos.

Ele acredita que a postura de críticas deve-se às diferenças partidárias. “Estão politizando o Enem, politizando o ingresso na universidade e o conteúdo da prova”, lamenta. “Seria interessante ter um órgão que execute o exame sob controle social, não de governo, nem de empresas”, sugere.

“A solução é nós discutirmos nacionalmente esse gerenciamento em um modelo como o americano para o vestibular nacional”, defende. O SAT, usado como método de seleção nos Estados Unidos, é aplicado por agentes privados de modo controlado pelo departamento de educação federal. Além de poder ser aplicado em dias diferentes, cartas de recomendação de professores e outros instrumentos também são considerados na seleção por parte de universidades.


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Nicolelis: Só no Brasil a educação é discutida por comentarista esportivo

por Conceição Lemes

Desde o último final de semana, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Ministério da Educação (MEC) estão sob bombardeio midiático.

Estavam inscritos 4,6 milhões estudantes, e 3,4 milhões submeteram-se às provas. O exame foi aplicado em 1.698 cidades, 11.646 locais e 128.200 salas. Foram impressos 5 milhões de provas para o sábado e outros 5 milhões para o domingo. Ou seja, o total de inscritos mais de 10% de reserva técnica.

No teste do sábado, ocorreram dois erros distintos. Um foi assumido pela gráfica encarregada da impressão. Na montagem, algumas provas do caderno de cor amarela tiveram questões repetidas, ou numeradas incorretamente ou que faltaram. Cálculos preliminares do MEC indicavam que essa falha tivesse afetado cerca de 2 mil alunos. Mas o balanço diário tem demonstrado, até agora, que são bem menos: aproximadamente 200.

O outro erro, de responsabilidade do Inep, foi no cabeçalho do cartão-resposta. Por falta de revisão adequada, inverteram-se os títulos. O de Ciências da Natureza apareceu no lugar de Ciências Humanas e vice-versa. Os fiscais de sala foram orientados a pedir aos alunos que preenchessem o cartão, de acordo com a numeração de cada questão, independentemente do cabeçalho. Inep é o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais, órgão do MEC encarregado de realizar o Enem.

“Nenhum aluno será prejudicado. Aqueles que tiveram problemas poderão fazer a prova em outra data”, tem garantido desde o início o ministro da Educação, Fernando Haddad. “Isso é possível porque o Enem aplica a teoria da resposta ao item (TRI), que permite que exames feitos em ocasiões diferentes tenham o mesmo grau de dificuldade.”

Interesses poderosos, porém, amplificaram ENORMEMENTE os erros para destruir a credibilidade do Enem. Afinal, a nota no exame é um dos componentes utilizados em várias universidades públicas do país para aprovação de candidatos, além de servir de avaliação para bolsa do PRO-UNI.

“Só os donos de cursinhos e aqueles que não querem a democratização do acesso à universidade podem ter algo contra o Enem”, afirma, indignado, ao Viomundo o neurocientista Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke, nos EUA, e fundador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, no Rio Grande do Norte. “Eu vi a entrevista do ministro Fernando Haddad ao Bom Dia Brasil, TV Globo. Que loucura! Como jornalistas que num dia falam de incêndio, no outro, de escola de samba, no outro, ainda, de esporte, podem se arvorar em discutir um assunto tão delicado como sistema educacional? Pior é que ainda se acham entendedores. Só no Brasil educação é discutida por comentarista esportivo!”

Nicolelis é um dos maiores neurocientistas do mundo. Vive há 20 anos nos Estados Unidos, onde há décadas existe o SAT (standart admissions test), que é muito parecido com o Enem. Tem três filhos. Os três já passaram pelo Enem americano.

Viomundo —
De um total de 3,4 milhões de provas aplicadas no sábado, houve problema incontornável em menos de 2 mil. Tem sentido detonar o Enem, como a mídia brasileira tem feito? E dizer que o Enem fracassou, como um ex-ministro da Educação anda alardeando?
Miguel Nicolelis — Sinceramente, de jeito algum — nem um nem outro. O Enem é equivalente ao SAT, dos Estados Unidos. A metodologia usada nas provas é a mesma: a teoria de resposta ao item, ou TRI, que é uma tecnologia de fazer exames. O SAT foi criado em 1901. Curiosamente, em outubro de 2005, entre as milhões de provas impressas, algumas tinham problema na barra de códigos onde o teste vai ser lido. A entidade que faz o exame não conseguiu controlar, porque esses erros podem acontecer.

Viomundo — A Universidade de Duke utiliza o SAT?
Miguel Nicolelis — Não só a Duke, mas todas as grandes universidades americanas reconhecem o SAT. É quase um consenso nos Estados Unidos. Apenas uma minoria é contra. E o Enem, insisto, é uma adaptação do SAT, que é uma das melhores maneiras de avaliação de conhecimento do mundo. O teste é a melhor forma de avaliar uniformemente alunos submetidos a diferentes metodologias de ensino. É a saída para homogeneizar a avaliação de estudantes provenientes de um sistema federativo de educação, como o americano e o brasileiro, onde os graus de informação, os métodos, as formas como se dão, são diferentes.

Viomundo — Qual a periodicidade do SAT?
Miguel Nicolelis –
Aqui, o exame é aplicado sete vezes por ano. O aluno, se quiser, pode fazer três, quatro, cinco, até sete, desde que, claro, pague as provas. No final, apenas a melhor é computada. Vários estudos feitos aqui já demonstraram que o SAT é altamente correlacionado à capacidade mental geral da pessoa.

Todo ano as provas têm uma parte experimental. São questões que não contam nota para a prova. Servem apenas para testar o grau de dificuldade. Outro peculiaridade do sistema americano é a forma de corrigir a prova. É desencorajado o chute.

Viomundo — Explique melhor.
Miguel Nicolelis — Resposta errada perde ponto, resposta em branco, não. Por isso, o aluno pensa muito antes de chutar, pois a probabilidade de ele errar é grande. Então se ele não sabe é preferível não responder do que correr o risco de responder errado.

Viomundo – Interessante …
Miguel Nicolelis – Na verdade, o SAT é maneira mais honesta, mais democrática de avaliar pessoas de lugares diferentes, com sistemas educacionais diferentes, para tentar padronizar o ingresso. Aqui, nos EUA, a molecada faz o exame e manda para as faculdades que querem frequentar. E as escolas decidem quem entra, quem não entra. O SAT é um dos componentes para essa avaliação.

Viomundo — Aí tem cursinho para entrar na faculdade?
Miguel Nicolelis — Tem para as pessoas aprenderem a fazer o exame, mas não é aquela loucura da minha época. Era cheio de cursinho para todo lugar no Brasil. Cursinho é uma máquina de fazer dinheiro. Não serve para nada a não ser para fazer o exame. Por isso ouso dizer: só os donos de cursinho e aqueles que não querem democratizar o acesso à universidade podem ter algo contra o Enem.

Viomundo – Mas o fato de a prova ter erros é ruim.
Miguel Nicolelis — Concordo. Mas os erros vão acontecer. Em 1978, quando fiz a Fuvest (vestibular unificado no Estado de São Paulo), teve pergunta eliminada, pois não tinha resposta. Isso acontece desde o tempo em que havia exame para admissão [ao primeiro ginasial, atualmente 5ª série do ensino fundamental) na época das cavernas (risos). Você não tem exame 100% correto o tempo inteiro.

Então, algumas pessoas estão confundindo uma metodologia bem estudada, bastante conhecida e aceita há décadas, com problemas operacionais que acontecem em qualquer processo de impressão de milhões de documentos. Na dimensão em que aconteceram no Brasil está dentro das probabilidade de fatalidades.

Viomundo -- Em 2009, também houve problema, lembra-se?
Miguel Nicolelis --
No ano passado foi um furto, foi um crime. O MEC não pode ser condenado por causa de um assalto, que é uma contigência e nada tem a ver com a metodologia do teste.

Só que, infelizmente, gerou problemas operacionais para algumas universidades, que não consideraram a nota do Enem nos seus vestibulares. Isso não quer dizer que elas não entendam ou nãoaceitam o teste. As provas do Enem são muito mais democráticas, mais racionais e mais bem-feitas do que os vestibulares de qualquer universidade brasileira.

Eu fiz a Fuvest. Naquela época, era muito ruim. Não media nada. E, ainda assim, a gente teve de se sujeitar àquilo, para entrar na faculdade a qualquer custo.

Viomundo -- Fez cursinho?
Miguel Nicolelis --
Não. Eu tive o privilégio de estudar numa escola privada boa. Mas muitas pessoas que não tinham educação de alto nível eram obrigadas a recorrer ao cursinho para competir em condições de igualdade.

Mas o cursinho não melhora o aprendizado de ninguém. Cursinho é uma técnica de aprender a maximizar a feitura do exame. É quase um efeito colateral do sistema educacional absurdo que até recentemente tínhamos no Brasil. É um arremedo. É um aborto do sistema educacional que não funciona.

Viomundo -- Qual a sua avaliação do Enem?
Miguel Nicolelis --
É um avanço tremendo, porque a longo prazo a repetição do Enem várias vezes por ano vai acabar com o estresse do vestibular. Você retira o estresse do vestibular. Na minha época, e isso acontece muito ainda hoje, o jovem passava os três anos esperando aquele "monstro". De tal sorte, o vestibular transformava o colegial numa câmara de tortura. Uma pressão insuportável. Um inferno tanto para os meninos e meninas quanto para as famílias. Além disso, um sistema humilhante, porque as pessoas que não podiam frequentar um colégio privado de alto nível sofriam com o complexo de não poder competir em pé de igualdade. Por isso os cursinhos floresceram e fizeram a riqueza de tanta gente, que agora está metendo o pau no Enem. Evidentemente vários interesses estão sendo contrariados devido ao êxito do Enem.

Viomundo -- Tem muita gente pixando, mesmo.
Miguel Nicolelis -- Todo esse pessoal que pixa acha que sabe do que está falando. Só que não sabe de nada. Exame educacional não é jogo de futebol. Tem metodologia, dados, história. E olha que eu adoro futebol. Sempre que estou no Brasil, vou ao estádio para assistir ao jogos do Palmeiras [Ninguém é perfeito (rs)!] O Brasil fez muito bem em entrar no Enem. É o único jeito de acabar com esse escárnio, com essa ferida que é o vestibular .

Viomundo — Nos EUA, não há vestibular para a universidade. O senhor acha que o Brasil seguirá essa tendência?
Miguel Nicolelis -- Acho que sim. O importante é o seguinte. O Brasil está tentando iniciar esse processo. Quando você inicia um processo dessa magnitude, com milhões fazendo exame, é normal ter problemas operacionais de percurso, problemas operacionais. Isso faz parte do processo.

Nós estamos caminhando para o Enem ser a moeda de troca da inclusão educacional. As crianças vão aprender que não é porque elas fazem cursinho famoso da Avenida Paulista que elas vão ter mais chance de entrar na universidade. Elas vão entrar na universidade pelo que elas acumularam de conhecimento ao longo da vida acadêmica delas. Elas vão poder demonstrar esse conhecimento sem estresse, sem medo, sem complexo de inferioridade. De uma maneira democrática.E, num futuro próximo, tanto as crianças de escolas privadas quanto as de escolas públicas vão começar a entrar nesse jogo em pé de igualdade. Aí, sim vai virar jogo de futebol.

Futebol é uma das poucas coisas no Brasil em que o mérito é implacável. Joga quem sabe jogar. Perna de pau não joga. Não tem espaço. O talento se impõe instantaneamente.

Educação tem de ser a mesma coisa. O talento e a capacidade têm de aflorar naturalmente e todas as pessoas têm de ter a chance de sentar na prova com as mesmas possibilidades.
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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Ainda sobre o jogo sujo e politicagem contra o ENEM

Saresp 2009: 20 mil provas trocadas, “vaquinha” para xerox, amigos empacotadores…

por Conceição Lemes
via blog viomundo

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1992 pelo ex-ministro Paulo Renato de Souza (PSDB), atual secretário de Educação do Estado de São Paulo.

Em 2009, ele esculhambou o Enem, quando uma prova foi roubada da Gráfica Plural, do Grupo Folha, com o qual a Secretária da Educação de São Paulo assinou contratos de mais de R$ 27 milhões.

Agora, de novo, Paulo Renato fez críticas pesadas aos erros ocorridos na prova de sábado do Enem 2010.


origem: viomundo acessado em 11nov2010
Origem: viomundo, acessado em 11nov2010


Paulo Renato sabe melhor do que ninguém que esses “problemas” não deveriam ocorrer, mas ocorrem. Mas parece que se “esqueceu” do que aconteceu com as provas Saresp 2009 ( Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar, da SEE_SP).

O Saresp é uma espécie de clone do Enem. Com diferenças fundamentais. No Enem, o aluno ganha, pois o resultado pode ajudá-lo a entrar na faculdade. Já o Saresp não beneficia em nada o estudante, já que ele avalia o sistema de ensino do estado de São Paulo. Como os resultados verdadeiros são pífios, acabam “manobrados” pelos tucanos que há 16 anos estão à frente da educação em São Paulo. O Saresp é uma autoavaliação do PSDB feita através dos alunos.

O Saresp também serve para a Bonificação por Resultados (BR), onde o professores a até funcionários das escolas “faturam”, conforme as notas obtidas pelos alunos.

Aliás, os números do Saresp “dizem” que a qualidade de educação pública em São Paulo vai bem, embora muitos alunos continuem saindo da escola sem saber ler. Mas isso vamos deixar para outra ocasião.

O importante aqui é que, em 2009, a mídia “comprou” a versão da Secretaria de Educação de São Paulo de que o Saresp do ano passado transcorreu maravilhosamente bem. Só que isso não é verdade.

Por exemplo, em Araraquara (273 km a noroeste de SP), no dia 18/11, 20 mil alunos perceberam, ao mesmo tempo, que as provas de português estavam misturadas com as de geografia — cujo conteúdo só poderia ser conhecido no dia seguinte, junto com a prova de história.

A assessoria de imprensa da SEE disse que o erro de empacotamento das provas foi isolado e não comprometeu a avaliação. Só as provas de geografia seriam substituídas, as demais deveriam ser guardadas.

Em alguns locais, sobraram provas. Em outros, faltaram. Os alunos tiveram de fazer “vaquinha” para xerocar o exame.

Segundo fontes da Secretaria de Educação de São Paulo, amigos dos funcionários foram convidados a ir à gráfica para ajudar a empacotar as provas do Saresp 2009 . Foi no dia em que deu apagão em vários estados brasileiros, devido a Itaipu. Todo mundo ficou no escuro.

São apenas alguns dos “problemas” do Saresp 2009, que Paulo Renato e a mídia corporativa ignoraram lá atrás. E continuaram esta semana, quando se uniram para detonar o Enem. Por que para problemas parecidos tratamentos diferentes? Cadê a isonomia tão alardeada pelos “especialistas” nos últimos dias?

Como o Viomundo defende a isonomia, reproduzimos do excelente NaMaria News dois posts sobre o Saresp 2009. O primeiro, publicado em 17 de novembro, mostra o caos e o descontamento dos alunos com a prova. O segundo, de 21 de novembro, faz um apanhado dos vários “problemas” ocorridos.

Em tempos de amnésia tucano-midiática, recomendamos que leiam para entender melhor o que está se passando. A propósito. O que aconteceu com aquela pessoa que foi pega roubando uma cópia da prova do Enem 2009 na Gráfica Plural, da Folha? Se alguém souber, por favor, nos mande informações.

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NaMaria News e Saresp 2009: Do caos à (pequena?) desordem – dia 1


O primeiro dia do SARESP 2009 foi realizado em SP. Um alívio, um sofrimento a menos. Uma maravilha.

Nem tanto, NaMaria, nem tanto. O que deu foi um montão de enrosco.

Confirmando as mensagens recebidas anteriormente e ampliando o quadro, tivemos o seguinte levantamento dos pequenos problemas que, para aqueles que os enfrentaram, foram verdadeiros pesadelos:

- Em 17/novembro; às 13:30 – de: —–Novaes (Vale do Ribeira)
Cara Namaria;
Finalmente as provas chegaram em nossa escola quase em cima da hora da aplicação assim quase não tivemos tempo de conferir tudo para entrega-las aos alunos. Tivemos que fazer cópias xerocadas das provas porque faltaram provas e sobravam alunos. Quer dizer que as provas não vieram em número suficiente para todos. Detalhe: nós pagamos as cópias de nosso bolso, fizemos a famosa vaquinha. Das duas uma: ou a listagem do banco de dados do CIE [Centro de Informações Educacionais, da Secretaria de Educação] está completamente furado, ou o mutirão convocado pelo secretário Paulo Renato para trabalhar lá na gráfica estava louco e não colocou a quantidade de provas suficientes nas respectivas caixas. Depois nós professores é que devemos ser avaliados e sempre somos os culpados de tudo? Assim é complicado, Namaria! Queremos só ver o que vai acontecer amanhã, manteremos você informada.

- Em 17/novembro; às 12:55 – de Sérgio—– (Litoral)

NaMaria, não apareceu nenhum fiscal aqui no período matutino. Foi uma desgraça de confusão mas no meio da desgraça ninguém sabia como resolver o problema. Você acha que merecemos tal desordem e ignorância dos nossos governantes? É melhor ser secretário ou qualquer outro burocrata do que ser professor ou aluno nesse São Paulo.

- Em 17/novembro; às 11:14 – de: Virgínia—– (Grande SP)
Olha NaMaria a coisa tah preta pro nosso lado. As provas chegaram aqui na escola parecendo uma caixa de lixo, sem o tal do lacre, faltando gabaritos, com provas rasuradas!! O pior eh que a gente deve notificar tudo para o CAED [empresa responsável pelo SARESP 2009] usando o fone 08007273112 que soh dah ocupado o tempo todo!!! Daí a gente liga para a FDE no 08007770333 e quando dah certo eles falam que eh tudo soh com o CAED. Se a gente deixar tudo errado como veio para a escola vai prejudicar todos que querem fazer o melhor. Eh para desistir? O QUE QUEREM DE NOS?

- Em 17/novembro; às 12:10 – de: José MF—– (Vale do Paraíba)

Uma desorganização tremenda, NaMaria! Nunca vimos tamanho descaso com a educação e ainda chamam isto de avaliação? Avaliar o que??? A falta de preparo, a falta de respeito deles conosco? Estamos aqui feito palhaços esperando e correndo para todos os lados para apagar os incêndios que a secretaria provocou. Essa porcaria de 0800 não atende a horas e horas. Dá vontade de largar tudo NaMaria. A gente só não abandona por causa dos alunos que não tem culpa dos nossos péssimos dirigentes. Esse saresp é uma vergonha igualzinho aqueles que o fizeram. Por favor Namaria denuncie tudo por nós. Abraços.

- Em 17/novembro; às 15:23 – de: Wellington—– (Noroeste de SP)

NaMaria as provas chegaram tudo trocadas aqui… kkkkkkkkkkkkk… a não ser que a gente passe todo mundo da 4ª para 3ª EM agora mesmo aí eles podem realizar as provas kkkkkkkkkkk Essa gente é piada. Vão ser desorganizados assim lá no Paraguai do Sul que eles inventaram naquele mapa deles … kkkkkkkkk… HELP NÓIS NAMARIA!

- Em 17/novembro; às 11:59 – de: Maria R—– (Vale do Paraíba)

Namaria vc sabe outro número diferente do 0800 do CAED? Essa droga de 0800 só dá ocupado ocupado ocupado… Como é que só dão um número de telefone para atender essa quantidade imensa de escolas? Está faltando um pedaço da prova, o que fazer? Nem a diretoria de ensino sabe.

- Comentário de La Pasionaria Ibarrure no post anterior deste NaMaria:
Pois é, depois de indas e vindas, de esquemas swuaterianos (da Swat) de segurança para evitar vazamentos, finalmente o Saresp está sendo aplicado.
Mas eu pergunto: Prá que tamanho esquema de segurança se, ao chegar a algumas escolas, os envelopes não continham provas suficientes para os alunos? Solução doméstica (ordem dos dirigentes regionais), tirem xerox das provas, a APM paga a conta, pois não há verba para xerox. Pode? (…)

Já deu para sentir o drama? Tem isto tudo e outro tanto. Pela WEB encontramos mais, como no dia anterior. Talvez dos relatos mais interessantes seja o que se lê no Professor Temporário – vale conferir a tragédia do Vazamento na prova do SARESP.

Enquanto isto a grande imprensa, a boa filha de sempre, não toca sequer numa vírgula dessas agruras. Não cita a Prova São Paulo para 350 mil estudantes municipais, justamente nos mesmos dias do SARESP. Como terá sido? Talvez muito bem, já que governo e prefeitura dão-se às maravilhas. Alunos, professores e demais podem se ajustar como for. Qualidade dos resultados? Como assim?

A mídia convencional cala-se geral, exceto pela manifestação de alunos contrários ao SARESP, na manhã de ontem (17). Mas o texto é tão pífio que não diz, por exemplo, nem de onde são os tais 300 alunos reunidos na Praça Coronel Fernando Prestes, perto da Avenida Tiradentes, como se fossem de todo e lugar nenhum. No entanto, qualquer micuim sedento sabe que em tal pracinha funciona o Centro Paula Souza, aquele que administra 167 Escolas Técnicas (ETEC’s) e 49 Faculdades de Tecnologia (FATEC’s) estaduais – as mesmas que o Governador Serra está divulgando desesperadamente nas emissoras de TV como suas pérolas mais caras e diletas.

Ali bem próximo está a Escola Técnica Estadual de São Paulo (ETESP), no Bom Retiro. O que o jornalão não diz é que foi de lá que partiu a manifestação e esta escola manteve a posição de sempre: não aderir ao SARESP. Estavam presentes outras sete ETEC’s. A Getúlio Vargas, do Ipiranga, só participou da prova porque não foi avisada em tempo. As demais entraram no barco da avaliação porque seus grêmios ainda não são tão fortes. Muitos seguranças e PM’s estavam presentes durante as quatro horas de reunião estudantil, porém apenas vigiando, ao contrário do que aprontaram na USP. Alunos faziam imagens e um deles nos disse que queriam contato com o pessoal da Carta Capital porque não confiam na grande mídia – que já os tachou de baderneiros.

Os alunos tem toda razão.

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NaMaria News e Saresp 2009: O rescaldo

A narrativa fecunda em incidentes do SARESP 2009, a barafunda abissal, por enquanto, pode assim ser resumida:

* Nem todas as escolas/classes/turmas, como preferir, receberam as provas corretamente. Entenda-se: no caderno de provas de português deve constar apenas questões de português e não de geografia ou matemática, que seriam em outro dia, por exemplo. Então o Miguelito está lá respondendo sobre a metafísica de uma charge sobre cortadores de cana e quando vira a página encontra gráficos, números e equações sobre venda de banana a quilo. Miguelito pensa que pirou ou as regras mudaram repentinamente ou ainda, que transformou-se em vidente. Mas não: foi erro do grosso mesmo, daquele mutirão dos 350 (ou mais) levado às pressas para a gráfica tapa-buraco do SARESP, a IGB – Indústria Gráfica Brasileira (Barueri), com os ônibus da JWA Transportadora Turística, contratada sem licitação em caráter de urgência. Problemas desta natureza aconteceram aos montes, em graus vários e diversas localidades paulistas.

* Nem todos os gabaritos das provas chegaram, quando chegaram não correspondiam com as provas. Quer dizer, a Secretaria da Educação e a FDE disseram ter criado 26 provas diferentes, com 24 questões cada, para evitar o ocorrido com o ENEM, há pouco mais de um mês. Vai daí que cada prova tem sua respectiva folha de respostas – as questões são as mesmas, o que muda é a ordem das perguntas. Se o Miguelito faz a prova modelo 24, deve ter em mãos o gabarito 24, onde assinalará as opções de respostas que julgar corretas. Acontece que Miguelito recebeu o gabarito da prova 13. Entretanto, no modelo 24 a resposta da questão 1 é C, e no modelo 13 é A. Elementar a confusão em cascata a partir disto, no momento da correção. Vale ressaltar que muitas unidades escolares receberam apenas os gabaritos, prova que é bom, necas; é a lei da compensação.

* Nem todas as questões, por sua vez, tinham uma única opção correta, como costuma acontecer em avaliações corriqueiras e universais; assim sendo, ainda que o aluno tivesse chegado à resposta correta, teria que adivinhar qual era a alternativa correta. Da mesma forma, provas de matemática pediam que os alunos analisassem determinadas figuras, entretanto as tais figuras não estavam impressas para serem analisadas.

* Nem todas as escolas receberam provas em número suficiente para os alunos inscritos, enquanto que em outras era uma loucura e sobravam para todo lado.
Isto é: provas das Escolas P, R e S foram parar na Escola X, que não precisava delas, deixando as Escolas P, R e S a ver navios enquanto a outra se afogava em celulose. Resultado: onde havia miséria de provas os professores tiraram cópias na base da vaquinha e/ou dinheiro da APM. Naquelas que as tinham de sobra, só Deus sabe o que foi feito com tanto papel, talvez o mesmo fimCaderno do Aluno, dado às montanhas de tão apropriadamente impressos pela Plural (a mesma gráfica do ENEM vazado), e outras de mesmo calibre.

* Nem todas as escolas tiveram a sorte de contar com os aplicadores (R$50,00/período) e fiscais (R$100,00/dia) das provas,
treinadíssimos e contratados a preço de ouro, porém muito mais em conta do que aqueles que serão designados multiplicadores no Nordeste (R$2.000,00/aula). Solução: diretores e demais responsáveis nas escolas se viraram nos trinta para tudo não se encaminhar ao brejo mais próximo. Agora só falta saber como essas pessoas serão pagas e quando, já que não tinham contrato como o dos faltosos.

* Nem todos os professores, diretores, aplicadores e fiscais ou gente com problemas sarespianos conseguiram falar com o 08007273112,
número fornecido pela empresa que levou R$ 27.418.148,80 para cumprir o contrato do SARESP 2009, o CAEd. Portanto, deve ter gente que até agora não sabe o que fazer da vida.

* Nem todos os alunos que ficaram sem responder à avaliação do sistema, por um fato ou outro, perderam a chance de demonstrar o que sabem. Benevolentemente foram marcadas novas datas: 20 ou 23/11, caso dia 20 tenha sido feriado na cidade. Portanto engana-se quem pensa que o bafafá terminou.

Embora a grande imprensa tenha se mantido taciturna, o tema foi cansativamente explanado pela assessoria de imprensa da Secretaria da Educação. Vejamos:

* Para o caso do sorumbático 0800 que não atendia ninguém, a assessoria de imprensa da SEE explicou que a Embratel comeu bola ao confundir milhares de chamados de professores em pânico com um furioso ataque de hackers, mancomunados que estavam para escangalhar com o SARESP. O procedimento é normal, disse a assessoria de imprensa da SEE.

* Para o caso das escolas em Mairiporã, Caieiras, Francisco Morato, Cajamar, Atibaia e outras que receberam provas de português pela segunda vez, quando deveriam ter recebido de matemática, a assessoria de imprensa da SEE informou que a ocorrência não foi significativa o suficiente para paralisar o andamento da prova e não terão [sic] grande influência no resultado da análise.

* Da mesma forma, os 200 alunos (6 turmas) da EE Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, em Sorocaba (90 km distante de SP, Rod. Castello Branco), se estreparam. Primeiro receberam as provas de uma escola de Santa Bárbara d’Oeste (130 km de SP, pertencente à região metropolitana de Campinas, Rod. dos Bandeirantes). Quando as novas caixas finalmente chegaram a diretoria tinha ordens de só abri-las na hora de cada prova. No dia da avaliação de matemática, no momento da distribuição, souberam que estavam com a de português, de novo. Diante disto atrasou geral e só terminarão o calvário dia 23/11. A assessoria de imprensa da SEE informou que o processo de avaliação não será comprometido.

* No caso dos gabaritos trocados, a solução caseira foi simples: mandaram a gente riscar o número da folha de respostas e colocar igual ao da prova. Fala verdade, você aí não gostaria de participar dessas correções?

* Para o caso perdido de Araraquara (273 km a noroeste de SP), no dia 18/11, apenas 20 mil alunos perceberam, ao mesmo tempo, que as provas de português estavam misturadas com as de geografia – cujo conteúdo só poderia ser conhecido no dia seguinte, junto com a prova de história. A assessoria de imprensa da SEE disse que o erro de empacotamento das provas foi isolado e não comprometeu a avaliação. Só as provas de geografia seriam substituídas, as demais deveriam ser guardadas.

Resumo final: O que você pensaria sobre isto, então?

Pois saiba que a assessoria de imprensa da Secretaria da Educação e seu Secretário, classificaram os problemas como “normais” para um exame do tamanho do Saresp.

Não obstante tamanha normalidade, temos algumas perguntas/pensamentos básicos:

- O SARESP é um exame para avaliar o sistema educacional do estado e serve-se dos alunos para tal fim.

- O SARESP não pode e nem deve ser usado como moeda de troca entre escolas e estudantes, ou seja: ninguém pode chegar no aluno e falar “olha, Zezão, você faz a prova e te aumentamos as notas, tá bem?” ou “em vez do provão final, a nota que vale é a que você tirar no SARESP” ou “Zezão, se tu não fizer a prova do SARESP tuas notas vão pras cucuias e você repete de ano” ou “escuta bem, se vocês forem mal no SARESP terão tanta lição, mas tanta que nunca mais conseguirão levantar nem pra ir ao banheiro”… Deu pra entender? Tudo isso não pode ser feito. Mas é.

- O SARESP funciona por adesão e não obrigação; não se pode obrigar os estudantes a participar, mesmo que a escola tenha aderido; não pode haver, em hipótese alguma, represálias aos estudantes pelo não comparecimento às provas. Mas elas existem.

- Os alunos não sabem para que serve o SARESP e ouvem explicações no mínimo furadas: vamos receber mais materiais de consumo pela participação, vamos poder contratar pessoal de limpeza, a merenda vai melhorar… Tudo engodo. Quem faz isto está mentindo.

- O SARESP, na verdade, é mais uma forma de poder dar umas migalhas aos professores, em vez de aumento real, como deveria ser. É como a coisa do bônus. É como o programa por mérito. Se tua escola for bem, se melhorar te damos um “aumento”. Daí o interesse em que alunos participem, sem eles, nada feito. Caso contrário é mais uma punição sob formas legais. Infelizmente muitas escolas por aí não revelam as reais intensões aos alunos. E quando o fazem, os alunos não estão nem aí.

- A avaliação, do jeito como é feita, não avalia nada – mesmo com todas as teorias e teóricos pedagógicos que a cercam, que fazem parte de grupos de seus estudos ou que estão metidos em suas comissões. Poderia ser séria, poderia ser uma maravilha. Mas não é.

- E já que o atual governo acredita tanto em pesquisas e estatísticas, por que não fazer o SARESP por amostragem? Seria mais barato, no mínimo. E menos estressante, com menores particularidades de logística etc..

- Está explicado porque tamanho caos é considerado completamente normal?

Agora, bacana mesmo é o que ocorreu entre as ETEC’s (Escolas Técnicas), escolas estaduais e o boicote ao SARESP no qual participaram. Você poderá acompanhar o barraco generalizado aqui, em breve. Emocionantes histórias com personagens do bem e do mal, pensadores cordatos, ativistas coerentes, acéfalos fascistas, alcaguetes inatos e outras personas mais. Fique ligado.

Ler mais: http://namarianews.blogspot.com/2009/11/saresp-2009-o-rescaldo.html

Nota do Viomundo:
Nos dias 17 e 18 de novembro, ocorrerá o Saresp 2010. Professores, pais e funcionários, por favor, nos mandem informações sobre a prova.